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Análise: Kuroda adota 5ª regra do Clube da Luta e burla 3ª

Andy Mukherjee

29/07/2016 15h50

(Bloomberg) -- Quando Haruhiko Kuroda embarcou o Japão em uma aventura monetária sem precedentes em abril de 2013, ele deu a impressão de que estava seguindo a oitava regra do Clube da Luta: " Se esta for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem de lutar". Três anos depois, os mercados se perguntam se o comandante do banco central japonês passou para a quinta regra apresentada no filme: "Uma luta de cada vez, pessoal."

Kuroda tinha perfeita consciência de que não fortalecer os programas de taxas de juros negativas e compras de títulos pelo Banco do Japão acabaria com expectativas de desvalorização do iene e que uma moeda local mais valorizada traria consequências ruins para a lucratividade das empresas. Mas considerando a dificuldade de agradar os que defendem o chamado dinheiro de helicóptero, ele provavelmente concluiu que só teria esperança de vencer uma única luta por ora, aquela travada no mercado acionário.

Pelo menos foi esse o recado que ele deu na sexta-feira, quando anunciou que iria quase dobrar o plano de compra de fundos negociados em bolsa (ETFs). Até então, a autoridade monetária pretendia ampliar a carteira de ETFs em 3,3 trilhões de ienes (US$ 31,8 bilhões) por ano. Agora o objetivo é 6 trilhões de ienes. Logo as bolsas japonesas passaram a relevar a decepção com o impasse cambial de Kuroda e o índice Topix subiu 1,2 por cento.

O novo objetivo dele tem potencial para sustentar os preços das ações. Desde o começo de 2013, houve entrada de 8 trilhões de ienes em ETFs que investem principalmente dentro do Japão. A compra de ETFs pelo banco central é pelo menos parcialmente responsável pela criação e compra de mais fundos.

Um aumento de 3 trilhões de ienes na carteira de ETFs do Banco do Japão significaria mais dinheiro entrando nas bolsas, o que pode até ajudar Kuroda a trapacear um pouco a terceira regra do Clube da Luta: " Se alguém gritar 'Para!', fraquejar, sinalizar, a luta está terminada."

O mercado de dívidas fraquejou quando Kuroda começou a comprar caminhões de títulos públicos. O mercado cambial gritou "Para!" quando a introdução de taxas de juros negativas no começo do ano levou à valorização do iene. Só falta o mercado acionário sinalizar um pedido de desistência. Em dólares, o Topix está 3 por cento abaixo do nível de um ano atrás, mas está 38 por cento acima do patamar de quatro anos atrás, quando o trabalho de Kuroda era tentar erradicar a pobreza por meio do Banco de Desenvolvimento da Ásia, em Manila. Para os investidores japoneses, o mercado local tem sido mais compensador em ienes do que mercados emergentes de maior crescimento, como China, Índia e Filipinas.

Porém, ações mais valorizadas e crédito barato não são suficientes para impulsionar novos investimentos. Para isso, executivos precisam formar opiniões razoáveis sobre o rumo da taxa de câmbio - se vai se apreciar para 80 ienes por dólar daqui a dois anos ou desabar para 120. Na sexta-feira, o câmbio passou de 104 ienes por dólar.

No momento, ninguém sabe para onde vai a política monetária japonesa. Para aliviar essas preocupações, Kuroda prometeu uma "avaliação abrangente" até a próxima reunião de política monetária, quando ele também já saberá exatamente quanto o primeiro-ministro Shinzo Abe planeja em novos gastos que farão parte do estímulo fiscal de US$ 265 bilhões anunciado recentemente.

Se, em setembro, Kuroda decepcionar os que apostam na depreciação do iene, sua luta contra a deflação pode estar terminada.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.