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HSBC ainda vê fome por dívida argentina após venda de US$ 30 bi

Charlie Devereux

01/09/2016 14h42

(Bloomberg) -- O custo do crédito da Argentina pode não estar caindo tão rapidamente quanto o previsto por alguns quando o presidente Mauricio Macri pôs fim a 12 anos de governos populistas. Mas o HSBC acredita que ainda existe bastante apetite pela dívida do país.

As emissões soberanas, provinciais e corporativas totalizaram mais de US$ 30 bilhões neste ano depois que Macri abriu caminho para o retorno aos mercados de capitais resolvendo uma disputa de uma década com credores sobre títulos em calote.

A segunda maior economia da América do Sul mal explorou as ferramentas de acesso a financiamentos que tem à disposição, segundo Gerardo Mato, presidente de global banking para as Américas do HSBC.

"A Argentina captou menos de 10 por cento do que poderia captar", disse Mato, em conferência em Buenos Aires, na segunda-feira, mencionando títulos perpétuos e fundos soberanos de investimento como instrumentos aos quais a Argentina pode recorrer.

"A estrada ainda é longa. Na Argentina, não começamos nem sequer a negociar ou a falar sobre esse tipo de coisa".

Embora apenas US$ 300 milhões tenham sido emitidos em agosto, US$ 1,8 bilhão em notas denominadas em pesos e em dólares deverá ser emitido até o fim do ano.

A província de Santa Fe busca vender US$ 500 milhões em setembro e a província de Tierra del Fuego também tenta captar US$ 150 milhões nos mercados internacionais, segundo a imprensa local.

As petroleiras YPF e Pampa Energia poderão emitir um total combinado de US$ 1,25 bilhão e a Irsa tem aprovação para vender US$ 299 milhões na quinta-feira.

Contudo, o apetite pelos títulos argentinos pode estar chegando ao seu limite entre os investidores dos mercados emergentes e para captar outras partes do mercado o país precisaria melhorar sua classificação de risco, disse Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa da Nomura Securities International.

"Com sua reestreia, a Argentina chegou e tem mais reconhecimento, mas para realmente ter fluxo cruzado, acho que precisa de uma classificação mais elevada", disse Morden, por telefone, de Nova York. "Realmente só se consegue fluxo cruzado e um grande apetite quando se tem grau de investimento".

A diferença entre o rendimento argentino e o brasileiro diminuiu para 76 pontos-base em junho, mas depois subiu novamente, para 140 pontos-base na quarta-feira.

Em maio, a S&P Global Ratings elevou a classificação de crédito da Argentina de "calote seletivo" para B-, citando o fato de o país ter pago US$ 2,7 bilhões em juros vencidos sobre títulos em calote desde julho de 2014.

O fato de a Argentina ainda estar atrás do Brasil, apesar da crise econômica e do escândalo de corrupção de seu vizinho, é um bom presságio para o futuro, disse Mato, do HSBC.

"O custo do financiamento é o mais baixo em 60 ou 70 anos; contudo, se comparamos com o Brasil no meio da Operação Lava Jato, [a Argentina] ainda está 150 pontos-base atrás", disse ele. "Ainda tem muito chão pela frente".