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O roteiro cauteloso do BC para o corte de juros

Josué Leonel

01/09/2016 14h04

(Bloomberg) -- Os juros futuros caem após o Banco Central retirar do comunicado do Copom a observação de que não havia espaço para alívio monetário. Para os analistas do mercado, o BC abriu a porta para a retomada do corte da Selic, que está inalterada em 14,25% desde julho de 2015.

Os membros do Copom, contudo, não pareceram interessados em sancionar uma euforia dos investidores. Pelo contrário, destacaram uma lista de condições necessárias para o primeiro corte de juros em mais de um ano, que seria a primeira redução com o BC sob o comando de Ilan Goldfajn e o Brasil presidido por Michel Temer.

O BC saiu de uma posição de dizer que "não vemos nenhuma condição" de cortar os juros para a de que "vemos espaço para corte, mas sob certas condições", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro. "É um roteiro condicional."

A necessidade de avanço fiscal é a mais desafiadora, a mais "binária" condição para o BC, diz Kawall. As outras duas condições, também fundamentais, são a desaceleração da inflação dos alimentos, afetada recentemente por fatores como a safra nos EUA e o clima, e os preços de serviços.

Kawall considera que a aprovação do teto dos gastos é um primeiro grande teste para o governo Temer. Sendo aprovado "sem furos", o teto poderá disparar nova onda de otimismo com o Brasil, diz o economista.

A reforma da Previdência não deve ser aprovada no curto prazo, mas Kawall considera fundamental que o projeto comece a tramitar no Congresso ainda este ano para ser aprovado em 2017. Não sendo enviado este ano, o prazo fica curto. Se a tramitação chegar a 2018, ano eleitoral, uma matéria tão sensível e que vai gerar muito debate dificilmente será aprovada, diz o economista.

Kawall projeta um corte de 0,50 ponto para a Selic em novembro. Ele observa que a melhora da inflação, que tem mostrado resiliência, é indispensável para o BC se sentir confortável para baixar o juro. A aprovação das reformas, contudo, teria um impacto mais amplo, ao mostrar ao investidor que a queda do dólar e do risco Brasil é sustentável, ajudando a atrair investimentos e também a manter baixas as expectativas inflacionárias de longo prazo.

--Com a colaboração de Marisa Castellani