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Contratações sem aumentos salariais ameaçam planos do Fed

Craig Torres

02/09/2016 12h51

(Bloomberg) -- Demorou mais de uma década para Paul Volcker e Alan Greenspan, presidentes do banco central americano (Federal Reserve), conseguirem desarraigar a inflação persistentemente elevada da economia dos EUA. Agora, os atuais responsáveis pelo Fed talvez precisem de pelo menos metade desse tempo para fazer a inflação subir para a meta.

A atual presidente da instituição, Janet Yellen, seu vice, Stanley Fischer, e a maioria dos diretores continuam acreditando que melhoras adicionais no mercado de trabalho gradualmente levarão os índices de preços para a meta de 2 por cento. Essa hipótese tem sido questionada a poucas semanas da reunião do comitê de política monetária.

O debate esquentou a partir da divulgação, nesta sexta-feira, do relatório mostrando criação líquida de 151.000 postos de trabalho em agosto, manutenção da taxa de desemprego em 4,9 por cento e desaceleração dos aumentos salariais. Há munição nos últimos dados para aqueles que preferem adiar um aumento da taxa básica de juros, argumentando que precisam de sinais de continuidade do aperto no mercado de trabalho. Um dos componentes mais críticos das projeções do Fed é o aumento de salários, que impulsiona a demanda e os preços dos produtos e serviços.

"Ninguém compreende o processo de inflação, incluindo o Fed", disse Torsten Slok, economista-chefe internacional do Deutsche Bank AG, em Nova York. "Se estamos próximos do pleno emprego, por que a inflação está tão bem comportada?"

Após a divulgação do relatório de emprego, a probabilidade de elevação de juros na reunião de 20 e 21 de setembro, conforme apostas no mercado de futuros, caiu para cerca de 14 por cento.

O mistério da lentidão dos aumentos salariais é preocupante no curto e longo prazo. Se Yellen e a maioria de seus colegas estiverem errados, a inflação pode continuar longe da meta, abrindo caminho para índices de inflação ainda menores quando a economia enfrentar outra fase ruim.

"O risco é que, quando vier a próxima crise, a inflação caia de 1,5 por cento para 0,5 por cento e então para deflação na recessão que vier depois disso", disse Ethan Harris, responsável por pesquisa econômica global do Bank of America, em Nova York. "É descer uma ladeira escorregadia."

A taxa de desemprego chegava a 8 por cento no começo de 2013. Naquela época, a inflação subjacente em 12 meses (calculada pelo escritório regional do Fed em Dallas) se mantinha firme na casa de 1,6 por cento. Esse quadro levou muitos economistas a questionar se houve mudança nos parâmetros dos modelos tradicionais de inflação.

"A ociosidade não importa" tanto quanto antes, afirmou Laurence Meyer, que, como um dos diretores do Fed entre 1996 e 2002, foi um dos principais defensores dentro da instituição da Curva de Phillips, que descreve a relação entre desemprego e inflação.

Em janeiro, o Fed reafirmou sua meta, declarando que as autoridades ficariam preocupadas "se a inflação ficasse persistentemente acima ou abaixo" da meta de 2 por cento.

Em junho, representantes do Fed projetaram inflação de 1,9 por cento no fim de 2017, efetivamente na meta. A equipe interna da instituição não foi tão otimista. Na reunião de 26 e 27 de julho, a equipe projetava inflação ainda "ligeiramente abaixo" da meta do comitê em 2018.

"Eu achava que haveria menos empáfia quanto à projeção deles, considerando quanto tempo faz que está abaixo de 2 por cento", disse Mark Spindel, diretor de investimentos da Potomac River Capital LLC, em Washington, que administra US$ 400 milhões. "Me explique como subir os juros ajudaria a levar a inflação para a meta?".