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Mensagem direta do BC sobre juros agrada mercado (1)

Josué Leonel

06/09/2016 14h10

(Bloomberg) -- A Ata do Copom, divulgada nesta terça-feira, trouxe com mais detalhes as condições necessárias para o Banco Central cortar juros: o ajuste fiscal e a desaceleração da inflação.
Analistas do mercado aprovam a comunicação do BC, que tem ficado mais explícita desde a posse da equipe comandada por Ilan Goldfajn. O BC deixa claro que quer "evidências" de melhora do cenário e não se compromete com pontos específicos ou um prazo para mudar sua taxa básica.

Para o mercado, a comunicação do BC mudou da água para o vinho quando comparada à da equipe anterior. Sob o comando de Alexandre Tombini cinco anos atrás, o BC cortou a taxa Selic inesperadamente, apesar de a inflação corrente estar acima de 7% e a expectativa para os 12 meses seguintes estar um ponto acima da meta. Hoje, mesmo com a inflação projetada pelo mercado para 12 meses um pouco mais comportada, o BC ainda não se comprometeu a agir, embora tenha delineado as condições para o corte.

Após detalhar as condições para o corte dos juros, relacionadas ao ajuste fiscal e à queda da inflação, o BC disse que estes fatores serão julgados com base nas "evidências disponíveis". Além disso, advertiu que não há fator que seja determinante por si só para as suas decisões. "Nenhum dos fatores constitui condição necessária ou suficiente para uma flexibilização das condições monetárias", diz a Ata do Copom.

Para Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados e ex-diretor do Banco Central, o BC quis, com essas afirmações, evitar ficar em "córner". Esse córner poderia ocorrer se o BC colocasse uma premissa específica para o corte dos juros, como um nível determinado de inflação, por exemplo. Isso poderia deixar o BC exposto a pressões quando uma condição fosse alcançada, mas o Copom entendesse que o cenário em geral ainda não estivesse consolidado. "O BC está deixando bem claras as condições para um afrouxamento monetário, mas sem se comprometer", disse o ex-diretor.

"Houve uma evolução incrível" na comunicação do BC, diz Solange Srour, economista-chefe ARX Investimentos. "O BC tem feito um esforço e está sendo muito bem-sucedido em deixar mais claro o que está olhando e como vai tomar a decisão, da forma mais transparente possível", diz a economista, que espera um corte dos juros em outubro.

Um aspecto que recebe elogios do mercado é o fato de o comunicado do Copom agora ser mais extenso do que antes da mudança na diretoria do BC. Com isso, o banco consegue, já no dia seguinte à decisão, dar ao mercado uma boa ideia sobre as explicações que estarão na ata na semana seguinte."O delta entre o comunicado e a ata é bem menor, o que é positivo, já que você sabe o que passou na avaliação do Copom", diz Samuel Kinoshita, economista-chefe e sócio da Bozano Investimentos.

"Sem dúvida que a comunicação do BC com mercado melhorou, principalmente no comunicado, que tirou um pouco do efeito-surpresa que os anteriores tinham, por serem lacônicos e curtos, dando margem a interpretações diferentes", diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

O BC disse à Bloomberg que não comenta avaliações do mercado. Em discurso de posse no BC, Ilan Goldfajn disse que "um elemento essencial da política monetária, e do regime de metas de inflação em particular, é a comunicação contínua com a sociedade por meio dos canais formais do Banco Central". Essa comunicação, disse Ilan, precisa ser "'simples, direta e concisa de modo a transmitir da melhor forma a visão do Banco Central, inclusive as incertezas quanto à perspectiva de diferentes trajetórias para a conjuntura econômica. A comunicação do Banco Central precisa também deixar claras as condições necessárias para as perspectivas apresentadas".

--Com a colaboração de Marisa Castellani e Patricia Lara Para entrar em contato com o repórter: Josué Leonel em São Paulo, jleonel@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Daniela Milanese

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