BC dos EUA pode declarar missão cumprida com a inflação, diz Deutsche Bank
(Bloomberg) -- O banco central americano não precisa se preocupar com a inflação baixa demais, de acordo com o Deutsche Bank.
A métrica preferida do Fed --a variação anual do núcleo das despesas de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês)--, atualmente em 1,6%, já estaria ao redor da meta de 2% se não fosse pela força do dólar no passado.
A valorização da moeda entre meados de 2014 até o começo de 2016 está exercendo a maior pressão negativa sobre o núcleo da inflação desde o final da década de 1990, segundo o estrategista-chefe global do banco, Bankim Chadha, mais conhecido como Binky. Isso dá a impressão de que o Fed não cumpriu as duas partes de seu mandato duplo: pleno emprego e estabilidade de preços.
"Uma razão central para o Fed continuar mantendo a taxa básica de juros extraordinariamente baixa é sua interpretação de que a inflação está muito baixa e as preocupações relativas a levar a taxa para a meta de 2%", ele escreveu. "Ajustando para as oscilações do dólar, a inflação subjacente ou em moeda constante medida pelo PCE subiu de um nível mínimo de 1% logo após a crise financeira para 2% por cento em fevereiro de 2016."
Diversas vezes o Fed mencionou os movimentos passados no mercado de câmbio para explicar porque a inflação continua abaixo da meta. Essa pressão "temporária" pode persistir por um período prolongado.
O impacto do dólar sobre a inflação cheia acontece rapidamente, por causa do impacto direto sobre os preços das commodities. No caso do núcleo da inflação, o repasse pleno das oscilações cambiais demora muito mais (até dois anos, segundo o Deutsche Bank).
"O dólar impacta o núcleo da inflação por meio de (i) preços de importação; (ii) efeitos de competição com importados; e (iii) variações nos preços de petróleo e commodities que afetam o custo de produção de outros bens", escreveu Chadha.
De modo geral, o dólar precisa estar fraco para que a meta do núcleo do PCE seja superada. Ao longo dos últimos 20 anos, a maioria das ocasiões em que o índice estava em ou acima de 2% ocorreu em períodos iniciais de pessimismo com o dólar.
Assim, a questão então é se o Fed está usando o barômetro mais adequado para pressões inflacionárias quando calibra a política monetária. A pergunta foi colocada em setembro do ano passado por um colega de Chadha, o economista-chefe do Deutsche Bank para os EUA, Joe LaVorgna.
Praticamente metade da diferença entre o núcleo do índice de preços ao consumidor, que tem ficado acima de 2% desde dezembro, e o núcleo do PCE reflete a força passada do dólar, afirmou Chadha.
O efeito do dólar sobre o núcleo do PCE também ajuda a explicar porque a Curva de Phillips, que descreve a suposta relação inversa entre desemprego e inflação, parece ter se rompido na economia americana.
Isso significa que o Fed pode continuar acreditando que uma diminuição da ociosidade no mercado de trabalho vai proporcionar aumento da inflação - sem precisar aguardar a evolução no núcleo do PCE para continuar o ciclo de aperto, segundo argumentos de autoridades como o responsável pelo escritório regional do Fed em Chicago, Charles Evans.
Além disso, a análise de Chadha enfraquece a teoria de que é necessário estímulo fiscal para impulsionar a demanda agregada e assim levar a inflação para a meta.
"A combinação de recuo da pressão do dólar e contínuo aperto do mercado de trabalho deve fazer com que a inflação segundo o núcleo do PCE suba e ultrapasse 2% ao longo dos próximos dois anos", concluiu.
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