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Obras de infraestrutura da China podem fazer mais mal que bem

Bloomberg News

13/09/2016 10h58

(Bloomberg) -- Apesar de todas as estradas, pontes e ferrovias que a China constrói por ano na tentativa de manter a economia a todo vapor, essa enorme ostentação pode não estar provocando o efeito desejado.

Isso porque mais da metade do investimento em infraestrutura da China perdeu valor econômico, em vez de gerá-lo, de acordo com um estudo da Saïd Business School, da Universidade de Oxford.

"As evidências sugerem que em mais da metade dos investimentos em infraestrutura realizados nas últimas três décadas na China os custos são maiores do que os benefícios gerados", disse Atif Ansar, um dos autores do estudo.

Além disso, a menos que a China mude seu foco para um número menor de obras públicas, que sejam de maior qualidade e que deixem um legado positivo, "o país entrará em uma crise econômica e financeira nacional, provocada pela infraestrutura, que provavelmente também será uma crise para a economia internacional", segundo a análise publicada na revista acadêmica Oxford Review of Economic Policy.

A China gastou mais de US$ 10,8 trilhões em infraestrutura somente na última década, de acordo com cálculos feitos pela Bloomberg a partir dos dados oficiais sobre investimento em categorias como transporte, armazenamento, fornecimento de energia e conservação da água.

As conclusões do estudo da Oxford divergem da perspectiva de que o investimento agressivo em infraestrutura conduzido pelo governo da China é vital para manter o crescimento no caminho certo.

Os pesquisadores analisaram 21 projetos ferroviários de grande porte e 74 projetos rodoviários com datas de início entre 1984 e 2008. Depois compararam o valor econômico desses projetos com o de 806 projetos de transporte realizados em democracias ricas.

Em vez de encontrar um legado econômico positivo e duradouro, a pesquisa da Oxford concluiu que 75 por cento dos projetos de transporte na China estouraram o orçamento. Um terço das estradas construídas estava congestionada e 41% delas eram pouco utilizadas. Ambos os extremos são igualmente indesejáveis porque "uma grande capacidade sem utilização equivale a desperdício, assim como uma capacidade insuficiente", de acordo com o artigo.

O grande número de investimentos em infraestrutura também agravou o crescente endividamento da China, já que os estouros do orçamento equivalem a cerca de um terço da montanha de dívida do país, de US$ 28,2 trilhões, de acordo com o artigo.

Na verdade, os defensores desse modelo podem argumentar que sem um grande investimento em infraestrutura depois da crise financeira mundial de 2008 a segunda maior economia do mundo teria afundado em um poço profundo e teria levado junto o comércio global.

Mesmo assim, os resultados da pesquisa da Oxford mostram que, quando se trata da China, às vezes menos pode ser mais.

"O modelo de investimento em infraestrutura da China não deve ser seguido por outros países, deve ser evitado", escreveram os pesquisadores.