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O que a sorte de Lula pode representar para o mercado

Nelson Antoine/Framephoto/Estadão Conteúdo
Imagem: Nelson Antoine/Framephoto/Estadão Conteúdo

Josué Leonel

14/09/2016 13h02

Destaque absoluto da imprensa brasileira na quinta-feira (15), as pesadas acusações do Ministério Público Federal de Curitiba contra o ex-presidente Lula foram vistas como sem efeito de curto prazo para o mercado. Por ora, as oscilações do dólar, da bolsa e dos juros seguem dependendo dos humores do exterior, com foco na reunião do BC americano da próxima semana, e das reformas do governo Temer. Para 2018, contudo, a sorte de Lula tem impacto, embora ainda marginal, no cenário de mercado.

A denúncia do MPF reforça um quadro que já vinha sendo de dificuldade eleitoral crescente para o PT nas duas próximas eleições, no mês que vem e em 2018, diz João Castro Neves, analista político do Eurasia Group em Nova York. Ele não recomenda, contudo, conclusões apressadas. "O mercado pode pensar que a esquerda morreu. Contudo, isso pode ser uma ilusão. Em política, nada morre e temos vários casos de políticos que voltaram após sofrer duras quedas."

Mesmo que Lula seja condenado e não possa concorrer, nada garante que o favorito em 2018 será um candidato pró-reformas, como o mercado gostaria. Entre os nomes tidos como possíveis candidatos, Aécio, Alckmin, Serra, Meirelles e o próprio Temer poderiam continuar as reformas. O quadro ficaria mais incerto, porém, considerando-se outros nomes que também aparecem nas pesquisas, como Marina, Ciro e Bolsonaro.

A sucessão de Temer deverá ser uma eleição "fragmentada", diz Neves. Deve se assemelhar a 1989, quando Lula e Collor foram para o segundo turno, em meio a muitos candidatos fortes. A grande diferença é que o risco de um candidato "outsider" agora é menor, segundo o analista. Diferentemente de 89, agora a eleição é "casada" e partidos que não tenham estrutura para lançar candidatos viáveis aos governos nos estados perdem força. No entanto, Neves não descarta totalmente o surgimento de um nome novo. "O sentimento anti-establishment político entre a população está muito forte."

Embora o cenário para 2018 possa afetar as análises dos investidores para o médio e longo prazo, a oscilação diária do câmbio continua dependendo de fatores de curto prazo, externos e internos. Nos EUA, a decisão do Fed na próxima quarta-feira é motivo de angústia, dado que os juros perto de zero no mundo desenvolvido vinham ajudando os mercados emergentes nos últimos meses. O Brasil também pegou carona neste movimento, reforçado aqui pelo efeito do impeachment de Dilma.

Mesmo em relação ao cenário político doméstico, o andamento do ajuste fiscal e as ameaças de retaliação de Cunha pesam mais do que as acusações contra Lula para o mercado no curto prazo, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. "As atenções no curto prazo estão muito mais focadas em como Temer vai endereçar as reformas."

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