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Indústria de produtos de luxo vive dias de pessimismo

Corinne Gretler e Thomas Buckley

14/09/2016 12h29

(Bloomberg) -- A crise da indústria global de produtos de luxo se aprofundou depois que a Hermès International abandonou uma projeção mantida há muito tempo e que a Richemont projetou uma queda nos lucros que o presidente do conselho da empresa, Johann Rupert, considerou inaceitável.

A Richemont, fabricante das joias Cartier, disse que o lucro operacional do primeiro semestre provavelmente cairá cerca de 45% e alertou que pode ter de aprofundar os cortes de custos.

A Hermès, fabricante das bolsas Kelly, que normalmente está entre as empresas mais resilientes do setor, abandonou a meta de crescimento anual de 8% das vendas, substituindo-a com o que descreveu como "uma meta ambígua".

O setor lida com mais um ano de queda da demanda porque à campanha da China contra os gastos excessivos somou-se a queda do turismo após os ataques terroristas na França e na Bélgica, uma situação que Rupert caracterizou como um "fiasco". A receita da Richemont caiu 13%, excluindo oscilações cambiais, no período de cinco meses até agosto e, portanto, abaixo das estimativas dos analistas.

"Os alertas mostram que as incertezas macro e geopolíticas colocam em dúvida o crescimento do volume a curto prazo", disse Zuzanna Pusz, analista da Berenberg. "Os desafios enfrentados pela indústria do luxo ainda não acabaram".

As ações da Hermès caíram 7,7% em Paris, declínio mais agudo em quase três meses, mesmo que o lucro do primeiro semestre tenha superado as estimativas. Até quarta-feira, a ação havia subido 24% neste ano, enquanto outras ações do setor de luxo estagnaram ou caíram. A Richemont caiu 4,6% em Zurique, e a Swatch Group caiu 3,5%.

'Menos flexíveis'

A Hermès prevê que os lucros serão menores no segundo semestre do que no primeiro, disse o CEO Axel Dumas em uma teleconferência.

"Temos que ser francos e transparentes, tivemos resultados melhores do que esperávamos no primeiro semestre, mas há muita incerteza ao redor do mundo e a rigidez do guidance nos torna menos flexíveis", disse ele.

Os ganhos antes de juros e impostos no primeiro semestre subiram para 826,8 milhões de euros (US$ 928 milhões), informou a Hermès. Os analistas previam 818,5 milhões de euros, segundo a mediana de 12 estimativas.

Despesas de reestruturação

A Richemont informou que o declínio do lucro operacional no período de seis meses até setembro inclui cerca de 65 milhões de euros em despesas pontuais de reestruturação, mas não as explicou. Os analistas haviam projetado uma queda de 41%, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

A empresa com sede em Genebra, que vem cortando empregos na produção de relógios de marcas como Vacheron Constantin, precisa diminuir o ritmo para se ajustar à demanda reduzida, disse Rupert na reunião. Fechar lojas e recomprar dos comerciantes os estoques de relógios não vendidos "não bastam", disse ele.

"Temos que enxugar até chegar à demanda real do mercado", disse Rupert. "O mundo atualmente tem um excesso de todo tipo de produto manufaturado".

As condições comerciais difíceis deverão continuar no restante do mês, disse a Richemont. "Temos a visão de que o ambiente negativo atual como um todo provavelmente não se reverterá a curto prazo", afirmou a empresa.