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Três motivos para uma disparada da produtividade nos EUA

Sid Verma e Luke Kawa

15/09/2016 12h12

(Bloomberg) -- Os astros estão se alinhando para uma virada que afetaria trabalhadores, empresas e o banco central dos EUA: a disparada na produtividade.

A diminuição da ociosidade no mercado de trabalho, o dólar forte e a expectativa de altas nos juros em breve abrem caminho para o aumento da eficiência da produção econômica no país, escreveram estrategistas do Deutsche Bank em relatório distribuído na terça-feira. "Os fatores históricos parecem estar se alinhando para uma inflexão para cima no crescimento da produtividade", afirmaram os profissionais chefiados por Binky Chadha. "Ao longo da história, o crescimento da produtividade responde fortemente às condições econômicas, isto é, o setor corporativo aumenta a produtividade quando precisa."

A equipe cita a aceleração do crescimento da renda das famílias como fator favorável para a produtividade. Dados divulgados ontem mostraram que a renda mediana das famílias subiu 5,2 por cento em 2015, com ajuste para a inflação.

Aumento da produtividade e aumento dos salários reais estão fortemente correlacionados. A correlação obviamente não estabelece causalidade e, embora muitos considerem o baixo crescimento da produtividade o motivo para o baixo crescimento dos salários, existe o argumento de que o mercado de trabalho apertado incentiva o aumento de salários, que, por sua vez, incentiva o aumento da produtividade.

Já a apreciação do dólar diminui a competitividade relativa das empresas americanas e, assim, cria incentivo para essas companhias aumentarem a produtividade para defender suas margens e participações de mercado, segundo a equipe de Chadha. Ainda que a necessidade de aumentar a produtividade para manter a posição competitiva se torne mais urgente nesse ambiente, também é possível que o fortalecimento do dólar convença empresas a aumentar investimentos fora dos EUA para aproveitar a variação no custo relativo do trabalho por unidade produzida. Desde que atingiu seu menor nível no ciclo, o dólar ganhou um terço em termos ponderados pelos fluxos comerciais. Isso melhora a perspectiva para a produtividade se a relação se mantiver verdadeira.

Os analistas ressaltam que a última fase de rápida produtividade nos EUA ocorreu no final da década de 1990, quando o mercado de trabalho tinha pouca ociosidade e o dólar subia.

Os temores de que a economia americana esteja em estagnação secular ? ou seja, o crescimento econômico e a taxa neutra de juros estejam baixos ou em território negativo ? foram alimentados pelos dados de produtividade nos EUA. O crescimento da produtividade ? uma métrica da variação na produção por hora trabalhada ? ficou negativo pelo terceiro trimestre consecutivo e o crescimento na comparação trimestral está significativamente abaixo da média de longo prazo de 2,2 por cento.

De fato, o ciclo de produtividade lenta já está no décimo terceiro ano, de acordo com os analistas do Deutsche, que apresentaram no relatório um estudo amplo do crescimento médio de longo prazo da produção dos trabalhadores desde a década de 1950.

Além do impulso à produtividade proporcionado pelo aumento dos salários reais e pelo dólar forte, "a normalização da taxa de juros deve levar a avanço do setor financeiro e da produtividade geral", afirmaram os analistas, ressaltando que o crescimento da produtividade entre as instituições financeiras tende a superar a do setor privado como um todo quando o rendimento do título do Tesouro com prazo de 10 anos sobe.

Não está claro se um eventual aumento da produtividade terá fôlego ou vida curta. Os analistas não divulgaram sua opinião sobre a perspectiva para fatores estruturais citados como obstáculos ao crescimento da produtividade, como o envelhecimento da população e o fato de novas tecnologias não terem impulsionado a produção nos últimos anos.