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Antiga tecnologia farmacêutica se aproxima de grande avanço

Yaacov Benmeleh e Michelle Fay Cortez

16/09/2016 12h37

(Bloomberg) -- As fabricantes de medicamentos estão dando um sopro de vida a antigos remédios-- com hidrogênio.

A substituição de uma forma mais pesada do elemento gasoso nos medicamentos pode desacelerar a decomposição deles pelo corpo, deixando-os na corrente sanguínea por mais tempo. Isso significa que um paciente pode tomá-los com menor frequência -- e isso, em teoria, pode reduzir a severidade dos efeitos colaterais.

Embora a tecnologia exista há 40 anos, foi preciso todo esse tempo para entendê-la suficientemente bem para submeter um tratamento do tipo à Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês).

O órgão regulador está analisando aquele que seria o primeiro medicamento produzido com deutério, ou hidrogênio pesado: uma pílula da Teva Pharmaceutical Industries para tratar um sintoma da doença de Huntington. A fabricante de medicamentos israelense planeja apresentar mais dados à FDA até o fim do mês e está confiante de que o medicamento chegará aos pacientes no ano que vem.

"Trata-se de um novo conceito e a aprovação da FDA trará muito mais clareza a esse campo", disse Graham Timmins, professor associado da Universidade do Novo México que estudou a tecnologia, conhecida como deuteração.

Propriedades únicas

Se a Teva conseguir aprovação regulatória, abrirá um mercado de "muitas dezenas de bilhões de dólares", disse Roger Tung, cuja empresa, a Concert Pharmaceuticals, também está desenvolvendo tratamentos com deutério.

"Isso mostraria o alcance das possibilidades", disse Tung, CEO da Concert, que tem sede em Lexington, Massachusetts, em entrevista. "O deutério oferece propriedades únicas que não podem ser obtidas de nenhuma outra forma".

A abordagem interfere em uma das formas como o corpo metaboliza ou elimina os medicamentos, envolvendo enzimas que "reduzem gradualmente" o hidrogênio na molécula, disse Timmins.

O deutério é, em essência, um hidrogênio blindado, mais duro e mais difícil de ser rompido pelas enzimas, por isso permanece mais tempo no corpo. Com exceção disso, o medicamento funciona como o original.

Empresas como Concert e Auspex Pharmaceuticals, esta adquirida pela Teva no ano passado por US$ 3,5 bilhões, construíram seus negócios patenteando versões deuteradas de medicamentos comercializados e depois testando-os para assegurar que eram seguros e efetivos.

Abordagem oportunista

A Concert adota "uma abordagem oportunista" em relação às parcerias, disse Tung. A empresa colabora em alguns casos com os produtores dos medicamentos originais, embora não mantenha parceria com a Vertex Pharmaceuticals para uma versão deuterada do tratamento Kalydeco, da Vertex, para fibrose cística. A Vertex preferiu não comentar sobre o produto da Concert.

Para cada um de seus potenciais produtos a Concert mantém direitos de propriedade intelectual nos EUA e acredita que tem "liberdade para operar", disse Tung.

A Teva informou que não tem nenhum acordo de licenciamento ou de royalty para o SD-809 e que não existe nenhum litígio envolvendo empresas que vendem tetrabenazina, a droga na qual se baseia o SD-809. A H. Lundbeck A/S e a Valeant Pharmaceuticals International, que vendem tetrabenazina sob a marca Xenazine, preferiram não comentar.