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Análise: Crescimento mundial patina sem locomotiva global

Rich Miller

19/09/2016 11h03

(Bloomberg) -- Isso é o que há de errado com a economia mundial: nenhum país tem a disposição ou os meios para ser a locomotiva do crescimento global.

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) parece fadado a adiar novamente a elevação dos juros nesta semana, em parte devido ao temor de que um aumento valorize o dólar e acabe estimulando as importações dos EUA.

A China está arrebatando uma fatia maior dos mercados internacionais, embora afirme o desejo de afastar sua economia das exportações. E a Europa também está buscando demanda para ajudar a conter as forças impulsionadas pelo Brexit que estão tentando separar o bloco comercial.

"Não vejo o surgimento de uma locomotiva nos trilhos", disse o professor Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, por email. "Tanto os EUA quanto a China e a Europa estão preocupados com seus problemas locais".

O provável resultado: o crescimento mundial continuará preso na faixa de 2% a 3% em que se manteve desde 2010. Esse desempenho, ridicularizado pela diretora executiva do FMI (Fundo Monetário Internacional) como "o novo medíocre", contrasta com a média de 3,6% que prevaleceu nos cinco anos que antecederam a recessão mundial de 2008-2009.

"Temos pelo menos mais um ano sem conseguir avançar", disse Nariman Behravesh, economista-chefe da consultoria IHS em Lexington, Massachusetts. Ele projeta que o PIB mundial aumentará 2,4% em 2016 e 2,8% no próximo ano.

Sem poder de fogo

O motivo desse resultado medíocre: as autoridades monetárias do Japão e da zona do euro "meio que perderam o poder de fogo" para estimular a própria economia, disse Charles Collyns, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais em Washington.

O Banco do Japão informará nesta semana uma análise abrangente da eficácia de suas medidas monetárias e definirá sua postura para o futuro.

A política fiscal terá uma influência cada vez maior, mas será principalmente uma "manutenção do statu quo" para manter o crescimento mais ou menos estável nas economias maduras, acrescentou Collyns, ex-membro do Tesouro dos EUA.

Por ser a maior economia do mundo, os EUA desempenharam o papel de locomotiva mundial no passado. Mas, com uma taxa média de crescimento de apenas 2,1% desde o fim da recessão, os responsáveis pela política americana estão reticentes em ver o país tomar excessivamente esse papel.

"O que eu digo a meus colegas de todo o mundo é que não podemos ser o único motor da economia mundial", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Jacob J. Lew, em uma conferência em Nova York em 13 de setembro. "É necessário que haja vários motores".

A China assumiu o bastão de motor do crescimento mundial no rescaldo da última recessão, intensificando o investimento e os empréstimos corporativos para estimular a segunda maior economia do mundo.

Agora, no entanto, está lutando com as consequências -- excesso de capacidade e endividamento maior -- e não demonstra muita disposição para desempenhar esse papel novamente.

"Nossas locomotivas certamente já não estão a todo vapor", disse Peter Hooper, economista-chefe do Deutsche Bank Securities em Nova York.