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Traders atentos aos próprios batimentos cardíacos ganham mais

Hugh Son

19/09/2016 15h58

(Bloomberg) -- Os traders que conseguem escutar melhor as pistas que seus corpos lhes dão sobre padrões do mercado ganham mais dinheiro e sobrevivem mais tempo no setor, segundo um estudo realizado por John Coates, ex-trader de derivativos do Goldman Sachs e agora neurocientista.

No livro "The Hour Between Dog and Wolf", de 2012, Coates revelou como as decisões dos traders são influenciadas pela biologia. Agora ele queria descobrir se as sensações eram sinais válidos ou apenas barulho. Para isso, junto com pesquisadores médicos da Universidade de Cambridge, ele examinou a fisiologia de 18 traders de alta frequência do sexo masculino que trabalham em um hedge fund de Londres. Os resultados, publicados na segunda-feira na revista científica online Scientific Reports, mostra que os tomadores de risco que estimaram com maior precisão suas próprias frequências cardíacas -- um teste do sentido introspectivo chamado interocepção -- ganhavam mais dinheiro do que aqueles que tiveram um mau desempenho na tarefa.

"Nós sabíamos que a fisiologia é normalmente mais precisa na representação do risco e da oportunidade nos mercados do que as avaliações conscientes das pessoas", disse Coates, 54, em entrevista, na semana passada. "Se há sinais tão valiosos de trading nas reações do nosso corpo, então é possível que as pessoas que percebem melhor essas mudanças físicas estejam tendo acesso a sinais de trading valiosos?".

A importância dos sentimentos instintivos no trading é discutida há decadas, mas não havia comprovação. Comenta-se, por exemplo, que o bilionário investidor de hedge fund George Soros reformula seu portfólio quando sua dor nas costas piora. Os avanços de nossa compreensão sobre a conexão entre a fisiologia e o desempenho podem ajudar os traders humanos a manter sua relevância em um momento em que as máquinas estão assumindo mais funções de criação de mercado e investimento.

Batimentos contados

No teste, pediu-se que os indivíduos contassem seus batimentos cardíacos sem sentir nenhum ponto de pulsação em períodos aleatórios de tempo. As estimativas foram comparadas aos batimentos cardíacos reais, disse Coates. Ficou evidente que os traders são melhores no teste de interocepção do que a população em geral, com uma pontuação de precisão média de 78,2 por cento no estudo, contra os 66,9 por cento obtidos por um grupo de controle composto por estudantes de Cambridge.

Depois, usando as declarações de lucros e perdas dos traders, Coates e seus colegas descobriram que aqueles que tinham uma sensibilidade maior ganharam mais dinheiro nos últimos 12 meses. O mais surpreendente para Coates, que passou 12 anos negociando derivativos no Goldman Sachs, no Merrill Lynch e no Deutsche Bank, é que quanto mais experientes os indivíduos, mais precisos eles são. Enquanto os traders com menos de quatro anos de experiência tiveram uma pontuação de 68,7 por cento, aqueles que vinham trabalhando há pelo menos oito anos chegaram a 85,3 por cento.

"É incrível que o mercado possa estar selecionando por isso", disse Coates. "Existe essa vantagem realmente poderosa no mercado e ninguém sabe nada a respeito".

Título em inglês: Are You Interoceptive? Traders in Tune With Heartbeat Make More

Para entrar em contato com o repórter: Hugh Son em N York, hson1@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Patricia Xavier

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