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Crowdfunding para revenda de casa nos EUA leva só 12 horas

Heather Perlberg

21/09/2016 10h46

(Bloomberg) -- Alex Sifakis nunca levantou tanto dinheiro tão rápido.

O especialista em compra e venda de imóveis residenciais em Jacksonville, no Estado americano da Flórida, captou recursos para nove operações totalizando mais de US$ 9 milhões por meio da RealtyShares nos últimos dois anos e meio. Uma captação feita em julho para uma operação de US$ 1 milhão demorou apenas 12 horas para sair.

"Normalmente, levantar dinheiro demora muito tempo'', disse Sifakis, 33 anos. "Isso proporciona tanta flexibilidade e economia de tempo. É bem melhor do que bater na porta de escritórios que cuidam de fortunas familiares, bancos ou firmas de Wall Street.''

Cada vez mais, incorporadoras e especialistas em compra e venda de imóveis estão usando o crowdfunding - acessando as carteiras virtuais de agentes anônimos na internet por meio de plataformas como RealtyShares, LendingHome, PeerStreet e Patch of Land.

Para empreitadas arriscadas, como a construção de casas e a compra, reforma e revenda de residências, é mais fácil obter financiamento rápido online do que junto aos bancos. Esse fenômeno contribui para o aumento da presença dos investidores que compram imóveis para revender com lucro. No segundo trimestre, 39.775 investidores nos EUA compraram e venderam pelo menos uma casa, o maior número desde 2007, de acordo com dados da ATTOM Data Solutions.

Financiadores no mercado

Os websites de crowdfunding fazem parte de um ecossistema de bilhões de dólares que inclui a LendingClub e a Prosper Marketplace. Essas plataformas unem usuários que precisam de dinheiro a pessoas que querem emprestar - seja para consolidação de dívidas ou pagamento de procedimentos médicos eletivos.

O negócio nem sempre corre tranquilamente. A LendingClub enfrenta um período conturbado após anos de rápida expansão. Em maio, seu fundador e CEO pediu demissão em meio a uma investigação interna sobre a venda irregular de um empréstimo e as ações da LendingClub desabaram.

Até agora, foram poucos os calotes observados nas operações de crowdfunding para acordos imobiliários. Quando calotes acontecem, as plataformas afirmam que pagam os investidores com o dinheiro da venda das propriedades.

O negócio tem outras potenciais armadilhas. Em se tratando do setor imobiliário, rapidez nem sempre é o melhor. Em meados da década de 2000, a máquina de financiamento de imóveis residenciais de Wall Street priorizava velocidade em detrimento da precisão --e os resultados foram desastrosos. Uma diferença agora é que a maioria das plataformas de crowdfunding é voltada para investidores e não para compradores da casa própria.

Além disso, fraudadores de identidade podem estar clicando o mouse para obter dinheiro, de acordo com Sara Hanks, cofundadora e CEO da CrowdCheck, que presta serviços de verificação para investidores online. "Já vimos situações em que a entidade que deveria ser dona da propriedade na verdade não tinha a posse", ela disse.

Para impedir fraudes, a PeerStreet não faz originação de empréstimos, como a maioria das plataformas. Em vez disso, criou um mercado secundário, adquirindo empréstimos a juros elevados concedidos a investidores imobiliários e espalhando o risco entre os indivíduos que compram fatias desses empréstimos online.

"Quem faz originação e venda tenta obter o máximo de volume que pode'', disse Brett Crosby, ex-funcionário do Google que foi um dos criadores da PeerStreet e agora atua como seu diretor operacional. "Para atrair mais tomadores de empréstimos, é preciso abandonar diretrizes de originação."

Sinal de alerta

A facilidade de captar fundos por meio dessas instituições não tradicionais pode ser um sinal de alerta, na opinião de Erik Gordon, professor de Direito da Universidade de Michigan em Ann Arbor.

"Sempre que há uma grande diferença entre os termos pelos quais se consegue levantar dinheiro em um mercado em comparação com outro mercado, algo está errado com pelo menos um desses mercados", disse Gordon. "É geralmente o mercado com agentes menos experientes e eles geralmente acabam se arrependendo de ter entrado no jogo."