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JPMorgan entra na briga por negócio de reestruturação no Brasil

Cristiane Lucchesi

21/09/2016 12h10

(Bloomberg) -- Os concorrentes podem ter se surpreendido ao ver Ricardo Leoni e Daniel Pombo, do JPMorgan Chase, na mesa de negociação ajudando a Samarco a reestruturar sua dívida de cerca de US$ 3,8 bilhões. Afinal, assessoria em reestruturação não é uma atividade pela qual o banco é conhecido no Brasil. Leoni e Pombo estão tentando mudar isso.

Como a demanda por serviços bancários tradicionais está sofrendo com o aperto de crédito em todo o país e a pior recessão em um século, bancos globais, como o JPMorgan e o Credit Suisse, estão ganhando espaço entre os principais players no negócio de reestruturação no Brasil, como Moelis, PJT, Rothschild e Lazard. 

"Como um banco líder na emissão de eurobônus na América Latina, vimos nosso negócio realmente encolher em fluxo em 2015, e procurar novas oportunidades se tornou uma estratégia para nós", disse Leoni, chefe da área de mercados de capitais de renda fixa no Brasil, em entrevista por telefone neste mês.

A vendas de títulos internacionais por empresas brasileiras caiu 82 por cento para US $ 7,8 bilhões em 2015, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Esse foi um incentivo para Pombo, chefe global de reestruturação do JPMorgan, viajar ao Brasil no ano passado para lançar serviços do banco. A ideia inicial era conceder empréstimos a empresas que entraram com pedido de recuperação judicial.

"Logo percebi que no Brasil é mais complicado oferecer financiamento para empresas inadimplentes", disse Pombo.

Nos EUA e Canadá, as leis de falência deixam credores confortáveis o suficiente para assumir o risco, dando a eles status de prioridade para o repagamento, disse Pombo.

"Muitos países promulgaram leis que imitam algumas das proteções que existem nos EUA, mas não houve casos suficientes em que tudo funcionou como esperado para emprestar sob esse regime," disse ele. 

O plano agora é de continuar atuando como assessor em reestruturações e como agente em transações de troca de eurobônus, disse Pombo.

"Nós geralmente não fazemos muito trabalho de assessoria financeira nos EUA porque temos exposição de crédito a muitas empresas lá, e, claro, há um conflito," disse Pombo, acrescentando que é diferente no Brasil. "À medida que expandimos nosso alcance para outros países onde não temos tanta exposição de crédito podemos fazer consultoria em reestruturação, mas apenas no contexto de ajudar um cliente estabelecido há muito tempo". 

O JPMorgan, que não quis comentar transações específicas, participou de troca de títulos da Gol e liderou operação de troca de eurobônus da USJ Açúcar e Álcool.