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Satélites em excesso afetam margens astronômicas de operadores

Michael Scaturro

22/09/2016 15h18

(Bloomberg) -- Os operadores de satélites estão lançando mais sondas de comunicações potentes no espaço, sendo que mais duas se unirão a quase duas dúzias já em órbita para o fim do ano, lotando os céus e ameaçando as grandes margens de lucro do setor.

Os novos satélites que serão lançados com um custo de até US$ 500 milhões cada um estão obrigando operadores consolidados a empreender atualizações custosas de suas frotas em um momento em que sua perspectiva de negócios escureceu.

Quatro empresas - a Intelsat, a SES, a Eutelsat Communications e a Telesat -, que dominam o negócio há décadas, ganham margens de mais de 70% transmitindo sinais de televisão no mundo inteiro. Agora, a oferta adicional está dando impulso a serviços como telefonemas via satélite, Wi-Fi em voos e acesso a internet em áreas remotas, mas reduzindo os preços.

"Com certeza muita oferta será ativada", disse Blaine Curcio, analista sênior da Northern Sky Research. "Os operadores estão lançando satélites enormes com excesso de capacidade".

Vulnerabilidade

Os investidores experimentaram a vulnerabilidade das quatro empresas em maio, quando a Eutelsat reduziu suas estimativas de lucro para este ano e o próximo, o que fez com que as ações caíssem 28% em um dia.

A Intelsat, afetada por mais de US$ 14 bilhões em dívida de longo prazo, sofreu um recuo de suas ações de mais de 80% desde o começo de 2014. As da SES caíram 12% neste ano.

A explosão de um foguete que transportava um satélite para o Facebook, ocorrida neste mês, mal reduziu o crescimento acelerado da capacidade global, que mais do que quadruplicou nos últimos dez anos, para 1,5 terabytes por segundo, segundo a Northern Sky.

É suficiente para transmitir 3,6 milhões de fotos digitais. A consultoria projeta que o crescimento vai acelerar, com um salto para quase 8 terabytes em 2020.

O crescimento tem sido impulsionado por empresas como a Avanti Communications Group, com sede em Londres, a Viasat, com sede em Carlsbad, Califórnia, e a Thaicom, uma fornecedora com sede em Nonthaburi, Tailândia, que conta entre seus donos com o Temasek, o fundo soberano de investimento de Cingapura.

Wi-Fi no ar

A queda dos custos poderia ajudar empresas como a Panasonic e a Global Eagle Entertainment, que compram a capacidade excedente em alguns dos 450 satélites geoestacionários que orbitam a Terra e a vendem como serviços como Wi-Fi para empresas aéreas.

Outros, como o Facebook e o Google, da Alphabet, querem utilizar satélites para expandir a conectividade a internet em locais como a África, onde eles também são utilizados para aliviar a carga das redes de telefonia. O Facebook planejava trabalhar com a Eutelsat para conectar mais pessoas à internet na África Subsaariana.

Os preços de alguns serviços chegaram a cair 20% nos últimos anos, disse Vanessa O'Connor, porta-voz da Eutelsat. A empresa projeta que os preços das transmissões de dados por satélite cairão 50 por cento nos próximos cinco anos.

Ameaça

As quatro principais empresas estão subestimando a ameaça, que será agravada por avanços tecnológicos, disse Tim Farrar, consultor em Menlo Park, Califórnia. A iniciativa para atualizar satélites para modelos mais rápidos dá aos operadores menos tempo para recuperar investimentos.

"Se os preços caírem, os operadores de satélites não terão 15 anos para recuperar o dinheiro", disse Farrar. "Terão de 3 a 5 anos. Esse é o problema fundamental".