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Vento contrário vira âncora dos juros na perspectiva do Fed

Craig Torres

23/09/2016 15h06

(Bloomberg) -- Se você ainda está tentando descobrir o que aconteceu dentro do Federal Reserve na quarta-feira, talvez deva se concentrar nestas palavras da presidente da instituição, Janet Yellen, durante a entrevista coletiva concedida após a reunião.

"Estamos enfrentando uma série de questões difíceis a respeito do que é o novo normal nesta economia e na economia global, de forma mais geral", disse Yellen. "Isso explica porque continuamos revisando a trajetória dos juros para baixo."

Trata-se de uma admissão honesta da comandante do banco central mais importante do mundo de que o ciclo econômico não está evoluindo como esperado. É por isso, entre outras razões, que escutamos tantas visões conflitantes de diferentes integrantes da cúpula do Fed nos últimos tempos e suas revisões de estratégia são tão frequentes.

O Fed atualmente prevê que sua taxa de juros real ajustada pela inflação permanecerá negativa no ano que vem e subirá para zero corrigida pela inflação apenas no fim de 2018. Em junho, seus responsáveis esperavam que a taxa básica ficasse ligeiramente positiva no fim de 2018.

Ou seja, será preciso ainda mais gasolina monetária do que a entidade calculava para estimular a economia dos EUA a atingir as projeções do Fed de crescimento de 2%, desemprego de 4,5% e inflação de 2% em 2018.

A perspectiva do banco central implica pouca contribuição da política fiscal ao crescimento dos EUA. Se os parlamentares votarem pela elevação dos gastos públicos, isso poderia exigir uma trajetória menos agressiva da parte do Fed para alcançar essas projeções.

"A história deste ano é uma projeção que pouco mudou, mas uma trajetória cada vez mais rasa para os juros" é necessária para atingi-la, disse Laurence Meyer, que já foi diretor do Fed e atualmente é responsável por uma empresa de análises de políticas em Washington.

Se a cúpula do Fed estiver certa, a taxa básica real de juros terá ficado em zero ou abaixo disso por cerca de uma década. Isso significa que, seja o que for que esteja freando o crescimento econômico dos EUA, parece mais uma âncora duradoura do que um vento contrário passageiro.