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Bancos centrais reduzem compra de títulos do Tesouro dos EUA

Liz Capo McCormick, Andrea Wong e Wes Goodman

26/09/2016 11h31

(Bloomberg) -- Eles são uma das fontes mais confiáveis de demanda por dívida do governo dos EUA há muito tempo.

Mas hoje, os bancos centrais estrangeiros se transformaram em mais um motivo de preocupação para os investidores no mercado de títulos mais importante do mundo.

Detentores como a China e o Japão diminuíram suas participações em títulos do Tesouro dos EUA por três trimestres consecutivos, o recuo mais prolongado já registrado, com base nas posições de custódia do Federal Reserve (Fed).

Para Jim Leaviss, da M&G Investments em Londres, isso é um motivo de preocupação. Se o recuo continuar, ele poderia provocar perdas dolorosas em um mercado que para alguns já está muito caro.

Mas talvez mais importantes sejam as consequências para as finanças dos EUA. Como o país enfrenta déficits que acrescentarão US$ 10 trilhões à dívida pública durante os próximos dez anos, a demanda externa será fundamental para conter os custos do crédito, especialmente porque o Fed continua sugerindo uma alta nas taxas de juros no futuro.

A pressão para vender dos bancos centrais é "algo a se ter em conta", disse Leaviss, cuja empresa administra cerca de US$ 374 bilhões. "Isso, e o Fed, significam que estamos mais perto do fim do ambiente de rendimentos baixos".

Endividamento

Credores estrangeiros desempenharam um papel fundamental no financiamento da dívida dos EUA porque o país tomou muitos empréstimos após a crise financeira para reativar a economia. Desde 2008, estrangeiros mais do que dobraram seus investimentos em títulos do Tesouro dos EUA e agora são donos de cerca de US$ 6,25 trilhões.

Os bancos centrais mostraram o caminho. A China, o maior detentor estrangeiro de títulos do Tesouro dos EUA, reinjetou centenas de bilhões de dólares nos EUA graças ao boom de sua economia com base nas exportações.

Agora, tudo está começando a mudar. A dívida do governo americano retida em custódia no Fed caiu US$ 78 bilhões neste trimestre, após um declínio de quase US$ 100 bilhões nos primeiros seis meses do ano. É a maior queda com base no acumulado no ano desde pelo menos 2002 e quadruplica a quantidade de qualquer ano completo nos registros, mostram dados do Fed.

Postura defensiva

A demanda doméstica ajudou a compensar a inatividade. Excluindo as notas de curto prazo, os gestores de recursos dos EUA compraram 45% dos US$ 1,1 trilhão em títulos do Tesouro dos EUA vendidos em leilões do governo neste ano, a proporção mais alta desde que o Tesouro começou a divulgar os dados há seis anos. Em 2011, a proporção foi de apenas 18%.

Por sua vez, os bancos comerciais americanos também engrossaram seus investimentos em dívida do governo e aumentaram suas participações para o recorde de US$ 2,38 trilhões no fim de agosto.

No entanto, alguns dos agentes mais influentes no mercado dizem que está na hora de adotar uma postura defensiva. Na semana passada, Jeffrey Gundlach, da DoubleLine Capital, previu que os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de referência superarão 2% antes do fim do ano, declaração que reflete sua projeção anterior de que o mercado de papéis finalmente chegou a um ponto de inflexão. Ao mesmo tempo, o Fed insinuou em sua reunião de setembro que provavelmente elevará os juros em dezembro.

"É só o começo", disse Park Sung-jin, diretor de investimento de capital da Mirae Asset Securities, que administra US$ 8 bilhões.