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Bolha imobiliária ronda famílias mais endividadas do mundo rico

Nick Rigillo e Christian Wienberg

29/09/2016 15h31

(Bloomberg) -- É geralmente impossível prever uma bolha quando ela está se formando, embora elas sejam óbvias quando estouram. Mas quando uma economia apresenta o maior nível de dívida das famílias no mundo rico, os riscos não poderiam ser maiores.

Na Dinamarca, os tomadores de empréstimos devem em média a seus bancos cerca do triplo de sua renda disponível (um recorde na OCDE). O país atravessou seu mais recente ciclo de expansão e contração de 2006 a 2008, quando os preços das casas caíram mais de 20 por cento do pico, desencadeando a pior recessão da Dinamarca em uma geração. Agora, os preços em Copenhague superam os do auge do boom anterior. Nordea, o maior banco da região nórdica, afirma que há motivos para temer que esta seja a próxima bolha.

Os ativos das famílias dinamarquesas ainda valem mais que suas dívidas. Mas "os preços de ativos podem cair, e uma dívida excessiva, em particular se ela tiver sido assumida com empréstimos variáveis, pode ser muito mais difícil de pagar se os juros aumentarem", disse Helge Pedersen, economista-chefe do escritório do Nordea em Copenhague, em entrevista por telefone.

"Tenho medo de que possam aparecer problemas de liquidez", disse ele. "Uma dívida bruta alta financiada com empréstimos variáveis pode provocar um problema de liquidez e dificuldades para o serviço da dívida. E se os preços dos ativos caírem, será uma combinação explosiva."

Por enquanto, há poucos sinais de esfriamento no mercado imobiliário. Hoje, os preços dos apartamentos estão 7,4 por cento acima do pico registrado em 2006, segundo dados da Statistics Denmark. Os preços das casas estão se aproximando rapidamente do pico prévio à crise após terem dado um salto de 2,3 por cento no trimestre passado em relação aos primeiros três meses do ano.

Isto aconteceu depois que a Dinamarca caiu no reino anteriormente inimaginável das taxas de juros negativas. Seu banco central, que defende a ligação cambial da coroa dinamarquesa ao euro, admitiu que sua política de juros provavelmente não se tornará positiva pelo menos até 2018. As taxas hipotecárias de curto prazo na Dinamarca estão negativas, assim como os rendimentos dos títulos do governo com vencimento em 10 anos.

Pedersen diz que a combinação entre juros ultrabaixos e alta dos preços das casas fornece um terreno fértil para o surgimento de comportamentos especulativos.

"É importante lembrar que as famílias dinamarquesas estão entre as mais endividadas do mundo", disse Pedersen em uma nota. "E embora nossos ativos valham muito mais do que nossas dívidas, é relevante enfatizar os riscos de mais aumentos da dívida."

"É notavelmente difícil prever uma bolha", disse ele. "Mas também é fato que a maioria das bolhas não foi prevista antes do estouro. Por isso é tão importante fazer o alerta agora."