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Por que o Brexit será tão difícil para o Reino Unido

Simon Kennedy

29/09/2016 15h55

(Bloomberg) -- Os governos da União Europeia se recusam a conceder qualquer margem de manobra ao Reino Unido em relação à ligação entre imigração e comércio exterior no momento em que o país se prepara para deixar o bloco, o que eleva a probabilidade de um "Brexit difícil".

Quase 100 dias após o referendo indicar o fim de quatro décadas de adesão do Reino Unido à UE, uma análise da Bloomberg News identificou um endurecimento das posições. Até mesmo aliados tradicionais do Reino Unido, como a Irlanda, estão insistindo que o país não poderá escolher as condições mais favoráveis nas iminentes negociações do divórcio.

O Reino Unido "não poderá ter as vantagens da União Europeia sem cumprir as obrigações", disse o ministro das finanças irlandês, Michael Noonan, em entrevista à Bloomberg TV.

Essa intransigência pode fazer com que a primeira-ministra Theresa May acabe preferindo uma ruptura clara com a UE para garantir sua meta de aplicar controles imigratórios mais rígidos, mesmo que isso custe o acesso do país ao mercado único, um cenário temido por banqueiros e executivos de negócios.

"As dinâmicas dentro do governo dão uma vantagem, no momento, aos maiores defensores do Brexit", disse o ex-secretário de Relações Exteriores David Miliband à Bloomberg TV.

A análise se baseia em entrevistas e comentários públicos de autoridades de todos os 28 governos da UE.

Reino Unido

A primeira-ministra Theresa May declara que "Brexit significa Brexit" e argumenta que o detalhamento público da postura do Reino Unido poderia prejudicá-la nas negociações. Ela disse que a nova relação será feita sob medida e "incluirá o controle do fluxo de pessoas que chegam ao Reino Unido", um sinal de que a redução da imigração é mais prioritária para ela do que a garantia de acesso ao mercado comum. Ela descartou um sistema de pontos como o australiano para controlar os fluxos de mão de obra.

Em relação ao comércio exterior, May disse simplesmente que deseja o "acordo certo para o comércio de bens e serviços". O secretário para o Brexit, David Davis, foi além e disse que era "improvável" que o Reino Unido pudesse reduzir o fluxo de trabalhadores da UE e manter as ligações comerciais atuais, comentário que levou May a repreendê-lo. Davis e o secretário de Comércio Exterior, Liam Fox, indicaram que gostariam de se retirar da união alfandegária da região para permitir a realização de acordos com outros países, embora May não tenha dado detalhes a respeito.

O ministro das Finanças Philip Hammond está preparado para aceitar que o Reino Unido tenha que desistir da adesão ao mercado comum para limitar a imigração, disseram duas autoridades neste mês. Em relação a quando May iniciará o processo formal de saída, ela informou apenas é que não será neste ano. O secretário de Relações Exteriores, Boris Johnson, disse à Sky News na semana passada que espera que as negociações comecem no início de 2017 e que poderão não durar dois anos, detalhes que também provocaram uma reprimenda do gabinete de May. May também disse que espera garantir direitos aos cidadãos que já estão no Reino Unido desde que os britânicos que estão em outros lugares do mundo recebam o mesmo tratamento.

França

A França continua argumentando que se o Reino Unido quiser ter acesso ao mercado comum e manter o direito de passaporte para os bancos, terá que respeitar plenamente as regras de livre circulação. Entre as preocupações bilaterais estão a pesca e o status dos residentes franceses no Reino Unido. O governo francês também quer que o Reino Unido ajude a gerenciar os migrantes regionais.

Alemanha

O governo da chanceler Angela Merkel não modificou sua posição de que qualquer acesso do Reino Unido ao mercado comum, quando o país estiver fora da UE, exigirá a preservação das chamadas quatro liberdades, inclusive a liberdade para que os cidadãos da UE trabalhem no Reino Unido. Fora do discurso oficial, alguns membros da base de Merkel dizem que a meta da Alemanha de manter laços próximos com o Reino Unido exige flexibilidade da UE. "Devemos pensar de forma criativa, não apenas em preto ou branco", disse Norbert Röttgen, chefe do Comitê de Assuntos Estrangeiros do Parlamento, em entrevista à Bloomberg, em 8 de setembro.