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'Rendição' da Opep ainda não estimula produção de xisto nos EUA

Alex Nussbaum e Joe Carroll

30/09/2016 09h29

(Bloomberg) -- A Opep finalmente deu um passo atrás após dois anos de guerra de preços com as petrolíferas dos EUA. Resta saber se isso significará uma vitória financeira para o setor americano de xisto.

Os preços do petróleo e as ações das produtoras americanas continuaram a subir na quinta-feira, um dia depois de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo prometer um corte de produção pela primeira vez em oito anos.

As companhias americanas precisarão que o barril seja negociado acima de US$ 50 durante meses para que possam se comprometer com mais investimentos, de acordo com analistas de empresas como S&P Global Platts e Oppenheimer & Co.

O surpreendente anúncio da Opep representeou uma "rendição" às produtoras nas bacias de xisto dos EUA, que foram muito mais difíceis de aniquilar do que seus oponentes esperavam, disse Katherine Richard, presidente da Warwick Energy Group, entidade de capital fechado que investe em milhares de poços de petróleo dos EUA, inclusive em novos empreendimentos nas regiões conhecidas como Scoop e Stack, no Estado de Oklahoma.

"Eles estão dizendo: 'não podemos crescer nem podemos financiar nossas economias com o petróleo a US$ 40 e US$ 50'", disse Richard por telefone de Oklahoma City. "Nos EUA é o oposto, porque as produtoras na bacia do Permiano e em Scoop e Stack estão tendo retorno acima de 20 por cento."

O petróleo subiu na quinta-feira para o valor mais alto em um mês depois da decisão da Opep. O barril do tipo West Texas Intermediate (WTI) avançou 1,7%, para US$ 47,83, em Nova York depois de disparar 5,3% na quarta-feira.

As ações das exploradoras de xisto ganharam 2%, puxadas por Approach Resources e SandRidge Energy, de acordo com o índice de produtoras independentes da América do Norte da Bloomberg Intelligence. Seu ganho foi de 8,3% na quarta-feira.

Corte da Opep

Os 14 países integrantes da Opep decidiram reduzir a produção diária em até 700.000 barris, aparentemente colocando um ponto final na iniciativa encabeçada pela Arábia Saudita de inundar o mercado de petróleo e levar à falência as produtoras de xisto com custos maiores.

Os detalhes sobre quais países realizarão os cortes e quais ficarão de fora serão definidos até a reunião de 30 de novembro, em Viena, informou o grupo. A Opep produz cerca de 40% do petróleo mundial.

Retirar do mercado essa quantidade de oferta poderia gerar "melhora significativa" dos preços do petróleo, disse Jenna Delaney, analista sênior do setor para a S&P Global Platts, em Houston. Mas não há garantia de que a Opep conseguirá aplicar o novo limite, segundo ela, especialmente porque Irã, Nigéria e Líbia exigem espaço para crescer.

Os trabalhadores das plataformas e geólogos que frequentam o The Bar, em Midland, a capital do xisto no Texas, ainda não estouraram o champanhe, disse Scott Gunn, proprietário do estabelecimento.

"As pessoas estão esperançosas, mas a gente aqui sabe que o que eles dizem e o que eles fazem são duas coisas diferentes", disse Gunn, filho de um geólogo especializado em campos de petróleo que mora nessa parte do Texas desde 1970. A Opep "ainda não fez o suficiente para estimular alguma atividade", disse ele.