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Vendas de açúcar tardias ajudam usinas endividadas do Brasil

Fabiana Batista, Isis Almeida e Paula Sambo

07/10/2016 12h59

(Bloomberg) -- Quem diria que escassez de crédito se tornaria uma bênção para as usinas de açúcar endividadas do Brasil?

Sem financiamento para fazer hedge de açúcar, companhias como Grupo Virgolino de Oliveira e Nova Aralco Indústria e Comércio foram forçadas a vender no mercado à vista. O que poderia ter sido arriscado acabou permitindo aproveitar ao máximo o rali de preços do açúcar de mais de 50 por cento em 2016 até o momento. Porém, a maior parte dos produtores brasileiros deixou de aproveitar essas altas, uma vez que uma grande parcela da produção desta safra está coberta a preços pelo menos 30 por cento menores que os níveis atuais, segundo a Kingsman, empresa de pesquisa de açúcar e etanol.

"No final, tivemos sorte", disse Joamir Alves, presidente do Grupo Virgolino de Oliveira, ou GVO, que possui quatro usinas no estado de São Paulo, em entrevista.

O GVO foi uma das produtoras brasileiras afetadas por um período anterior de excesso de açúcar e pela política do governo de limitar os preços da gasolina, que reduziu a demanda pelo etanol. Desde 2008, cerca de 120 usinas brasileiras, ou 30 por cento do total, passaram por problemas sérios, incluindo recuperações judiciais, segundo a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). O GVO descumpriu um pagamento sobre US$ 735 milhões em títulos em janeiro de 2015 e ainda está negociando com credores.

Maior alta em 4 anos

O açúcar se recuperou desde então e passou a ter o melhor desempenho do Bloomberg Commodity Index no ano até agora em meio a projeções de que a demanda global excederá a produção pelo segundo ano seguido. Os contratos de futuros do açúcar bruto negociados em Nova York atingiram o patamar mais alto em quatro anos em 29 de setembro. O contrato para entrega em março fechou a 23,11 centavos de dólar a libra-peso na quinta-feira.

A maior parte dos principais fornecedores brasileiros fez hedge de sua produção em 14 centavos a 17 centavos de dólar, disse Claudiu Covrig, analista sênior da Kingsman, na terça-feira, em apresentação que fez parte da Semana do Açúcar de Londres. Por exemplo, a Raizen Energia fez hedge no primeiro semestre do ano a um preço médio de 14,1 centavos de dólar. O diretor comercial da Raizen, Ivan Melo, preferiu não fornecer informações atualizadas sobre seu programa de hedging.

O GVO vendeu até o momento 80 por cento do total estimado de 400.000 toneladas de sua produção anual de açúcar a uma média de 19 centavos de dólar por libra-peso, disse Alves. Embora os US$ 300 milhões em títulos do GVO com vencimento em 2018 ainda estejam seriamente distressed, sendo negociados a apenas 6,75 centavos por dólar na sexta-feira, o preço ainda assim se multiplicou por seis nos últimos 12 meses. A USJ Açúcar e Álcool, outra produtora, viu suas notas para 2021 subirem 19 por cento, para 81 centavos de dólar, desde maio, quando reestruturou sua dívida em uma transação que a S&P Global Ratings classificou como default.