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Ilusão de liquidez se desfaz com derrocada da libra esterlina

Lananh Nguyen e Andrea Wong

10/10/2016 14h47

(Bloomberg) -- A inexplicável volatilidade da libra esterlina na semana passada não foi surpresa para o Bank of America. Dias antes, a instituição alertou que a liquidez no mercado global de câmbio, que movimenta US$ 5,1 trilhões por dia, estava muito pior do que todos imaginavam.

A libra desabou 6,1% em questão de minutos no início das negociações na Ásia em 7 de outubro. A situação veio após pelo menos outros três episódios de turbulência inexplicável no câmbio nos últimos dois anos.

O mais recente episódio envolveu a quarta moeda mais negociada do mundo, lembrando os investidores das armadilhas que enfrentam no maior mercado financeiro do mundo, à medida que os bancos - que atuam como intermediários - recuam por causa das regulamentações impostas após a crise.

O mercado de câmbio está se tornando mais frágil porque a "liquidez-fantasma" prejudica a capacidade dos investidores de comprar e vender quando precisam, escreveram analistas do Bank of America em relatório divulgado em 5 de outubro. A pesquisa deles concluiu que, com a queda dos volumes de negócios, as transações têm impacto 60% maior sobre as cotações do que há apenas dois anos.

O tamanho do movimento da semana passada no "no mercado de maior tamanho e profundidade do mundo apavora a todos", disse Bob Savage, presidente do hedge fund CCTrack Solutions LLC, em Nova York. "A questão maior é se existe algo que possa ser feito."

Recuo

Vital para a economia global, o mercado de câmbio foi abalado por cortes de pessoal e um escândalo de manipulação de taxas que envolveu alguns dos maiores bancos do mundo.

Regras mais rígidas adotadas desde a crise financeira forçaram o recuo dos intermediários, abrindo caminho para a expansão dos formadores de mercado que atuam de forma automatizada. Contudo, os novatos não barraram a queda de volumes. O volume diário de negócios com moedas globais encolheu quase 6% desde 2013, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS).

A derrocada da libra esterlina aconteceu após evento similar envolvendo o rand sul-africano, que em janeiro desabou 9% em 15 minutos e depois se recuperou. Uma situação parecida aconteceu com o dólar da Nova Zelândia em agosto do ano passado.

"Se os investidores tiverem urgência em negociar, a liquidez pode desaparecer e talvez eles não consigam", disse Vadim Iaralov, estrategista de câmbio do Bank of America, que ocupa a quinta posição no ranking de negociação de câmbio no mundo, de acordo com a revista Euromoney. "Talvez não haja ninguém para negociar do outro lado."

Eventos chocantes podem desencadear volatilidade inesperada e causar ampliação significativa nos spreads entre ofertas de compra e venda, à medida que os formadores de mercado recuam em períodos de turbulência para evitar perdas, escreveram na semana passada Iaralov e o coautor do relatório, Christopher Xiao.

Custo da liquidez

Para estrategistas do JPMorgan Chase, segundo maior na negociação de câmbio, a queda da libra reacende o debate sobre a mudança da estrutura do mercado e seu impacto sobre a liquidez.

Em um sinal da concorrência cada vez maior com instituições não bancárias, a XTX Markets Ltd., que faz transações computadorizadas, ocupou a quinta colocação no ranking de negociadores de câmbio da Euromoney, divulgado em maio. Formadores de mercado que atuam em alta velocidade mais que triplicaram seus volumes cambiais nos últimos três anos, segundo a consultoria Aite Group, de Boston.

"O advento de provedores de liquidez não bancária, como negociadores de alta frequência, diminuiu o spread entre ofertas de compra e venda e aumentou a eficiência nos mercados de câmbio, mas teve como custo menor profundidade do mercado e retirada da provisão de liquidez em períodos de estresse", escreveram estrategistas do JPMorgan, incluindo Nikolaos Panigirtzoglou, em relatório divulgado em 7 de outubro.