Trump surge como salvador insólito para tirar EUA do juro zero
(Bloomberg) -- Sinais iniciais do mercado financeiro sugerem que a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA pode logo acabar com o maior problema do banco central americano (Federal Reserve): as expectativas de inflação baixas.
Uma métrica do mercado de renda fixa para as expectativas de inflação dos investidores que inclui o risco associado a essas expectativas disparou desde o anúncio da vitória de Trump na quarta-feira. Investidores apostam que ele tornará a política fiscal mais expansionista, considerando promessas de campanha de corte de impostos e aumento dos gastos militares e com infraestrutura.
A movimentação do mercado é boa notícia para os integrantes do Fed, que vinham expressando preocupação com as expectativas baixas para a inflação, mas não chegaram a tomar medidas para elevar essas projeções, por acreditarem que o mercado de trabalho dos EUA está perto do pleno emprego.
A alta das expectativas tende a provocar a alta dos juros, o que por sua vez diminui a chance de o Fed ser obrigado a baixar a taxa básica para zero novamente no futuro próximo.
A presidente do Fed, Janet Yellen, resumiu a questão no rodapé de um discurso em junho.
"A noção de que a inflação pode ser baixa demais pode soar estranha para muita gente, mas inflação muito baixa geralmente significa juros nominais muito baixos, deixando pouco espaço para a política monetária reduzir os juros para compensar choques adversos na economia, portanto aumentando as chances de que recessões e demissões associadas sejam mais severas e persistentes", ela disse.
A expectativa dos consumidores americanos para a inflação em cinco a dez anos caíram em outubro para o menor nível nos 37 anos de dados coletados pela pesquisa mensal da Universidade de Michigan.
A queda nas expectativas ajuda a explicar porque o Fed reluta em subir a taxa básica de juros, que permanece próxima de zero mesmo após um acréscimo em dezembro--o primeiro em praticamente uma década.
A manutenção dos juros baixos eventualmente poderia impulsionar a inflação para um nível que levaria ao aumento das expectativas para o avanço dos preços. Porém, a economia americana ficaria vulnerável a choques neste ínterim que poderiam forçar um novo ciclo de flexibilização monetária, mas com o Fed quase sem munição.
Se for acertado o entendimento dos investidores de que Trump melhora a perspectiva para a economia e a inflação, os consumidores eventualmente poderão ter a mesma opinião.
"Os mercados estão tentando avaliar o que o resultado da eleição significa", afirmou o responsável pelo escritório regional do Fed em Saint Louis, James Bullard, respondendo a perguntas na quinta-feira após um discurso na mesma cidade.
"Certamente rompe a paralisia em Washington, que tem sido uma queixa importante sobre como a economia opera, pelo menos nos seis anos em que o governo esteve dividido."
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