IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Hedge e um certo alguém estragam ano do peso mexicano

Jessica Brice e Isabella Cota

16/11/2016 15h56

(Bloomberg) -- Para o peso mexicano, não era para 2016 acabar assim.

No começo do ano, a maioria dos analistas cambiais concordava: o peso estava grosseiramente subvalorizado. Estimativas compiladas pela Bloomberg na época indicavam que ele teria o maior ganho entre as principais moedas. O Bank of America afirmou que a situação iria melhorar; o Citigroup e o HSBC Holdings opinaram que com certeza ela não iria piorar.

Contudo, perto do fim de 2016, o peso não é um destaque dos mercados emergentes. Ao invés disso, é a moeda com o pior desempenho do mundo. Bombardeada por acontecimentos muito além de suas fronteiras -- como o Brexit no Reino Unido --, a moeda despencou 6 por cento frente ao dólar neste ano até 8 de novembro. E depois Donald Trump foi eleito presidente dos EUA.

Da noite para o dia, o peso afundou mais de 13 por cento e passou a marca de 20 por dólar pela primeira vez. O peso mexicano valia menos que US$ 0,05. É provável que encerre o ano registrando o quarto declínio anual consecutivo.

"Antes, o peso era apenas um hedge os mercados emergentes", disse Eduardo Suárez, estrategista do Bank of Nova Scotia na Cidade do México. "Agora, ele é um hedge para tudo". A mudança foi gradual, acrescenta Suárez, até recentemente, quando se tornou exponencial. Com o tempo, o que começou sendo a maior vantagem do mercado financeiro mexicano -- sua liquidez -- se transformou em uma de suas principais desvantagens.

Os fundamentos do México não justificam tamanha fraqueza cambial, afirmam estrategistas surpreendidos. A inflação está controlada, a nota de crédito do país continua em grau de investimento e o crescimento econômico de 2,1 por cento estimado para este ano parece farto em comparação com as recessões no Brasil e na Rússia, donos de duas das grandes moedas de melhor desempenho do mundo. Para muitos analistas veteranos do México, o comportamento do peso não faz sentido... até analisar como os mercados no exterior vêm se comportando nos últimos anos. Para se proteger contra a queda de preço das commodities, a desaceleração do crescimento na China, a instabilidade na Europa, ou qualquer outra coisa, os traders vendem o peso a descoberto.

Um fator que impulsiona a demanda por hedge é que o peso é negociado 24 horas por dia e cinco dias por semana. É algo raro na América Latina, onde o real e o peso chileno operam durante o horário comercial fixo. Além disso, o peso é segunda moeda mais líquida dos mercados emergentes (perdeu o trono neste ano para o yuan chinês). Seu volume diário de negócios foi de US$ 112 bilhões em abril, o mês mais recente com dados disponíveis do Banco de Compensações Internacionais. É quase o dobro do volume do rublo ou do rand sul-africano.

Hoje, as finanças sólidas do México em comparação com seus pares, a livre flutuação cambial e a transparência significam que o peso continuará sendo o hedge do mundo, diz Antonio Sibaja, diretor de investimentos da Ivercap. "Será que algum dia ele deixará de ser um hedge?", pergunta ele. "Teria que acontecer algo impulsionado pelo mercado ou nós teríamos que virar de repente a República Bolivariana da Venezuela."