Fed precisa se tornar 'negociador de último caso' do mundo
(Bloomberg) -- Enquanto o presidente eleito Donald Trump ameaça virar as costas dos EUA para o resto do mundo, o Federal Reserve se verá cada vez mais pressionado a estender a mão para o exterior.
É este o prognóstico do diretor de economia dos EUA do Credit Suisse, Zoltan Pozsar. Para ele, o banco central americano precisa de uma abordagem mais ativista para garantir a disponibilidade adequada de dólares, diante de recentes mudanças regulatórias que elevaram os custos de captação das instituições financeiras e limitaram as fontes de financiamento em dólares.
A liquidez disponível para instituições financeiras foi enxugada por novas regras que exigem que os bancos tenham enormes colchões na forma de ativos fáceis de vender e também pelo êxodo de fundos de renda fixa de alta liquidez, motivado por reformas implementadas em outubro. Isso levou a uma alta aparentemente permanente dos custos de captação dos bancos, afirmou o analista.
Isso significa que, quando os bancos estrangeiros precisam de dólares, são forçados cada vez mais a obtê-los por meio de swaps cambiais junto a bancos e gestoras de ativos dos EUA.
Por sua vez, essas entidades enfrentam restrições em termos de balanço patrimonial. O custo para converter pagamentos em euros e ienes em dólares atualmente é o maior desde 2012, conforme implícito nas taxas persistentemente negativas de swaps de moedas cruzadas.
O resultado líquido é um "trilema existencial" para o Fed, que se vê obrigado a escolher dois de três objetivos: sanar os balanços patrimoniais dos bancos, estabilizar os custos de captação em dólares onshore e offshore e manter a política monetária independente.
A melhor solução possível, na visão de Pozsar, é o Fed abrir mão de seu próprio balanço patrimonial, servindo como "negociador de último caso" por meio de "afrouxamento quantitativo em eurodólar de tamanho paquidérmico". Ou seja, permitindo o uso ilimitado de suas linhas de swap em dólares para impedir que os custos de captação em dólares dos bancos estrangeiros subam demais em um ambiente de balanços patrimoniais restritos das instituições financeiras.
"A ferramenta a ser usada é a linha de swap em dólares do Fed, mas o objetivo não seria mais conter os mercados de financiamento, mas policiar o intervalo dentro do qual vários contratos de moeda cruzada são negociados", escreveu Pozsar, defendendo a "distribuição plena e a preço fixo de eurodólares globalmente" pelo banco central americano.
"De certo modo, um afrouxamento quantitativo eurodólar é a peça que falta em um mosaico no qual o Banco Central Europeu e o Banco do Japão continuam o afrouxamento quantitativo em ritmo agressivo e os investidores em suas jurisdições estão preenchendo suas lacunas de duração com ativos em dólar de maior rendimento com hedge", ele explicou.
"Mas a provisão privada de swaps [cambiais] para hedge desses fluxos não poderá jamais acompanhar o ritmo de criação pública de euros e ienes em escala maciça."
Para ele, o não engajamento em um afrouxamento nesses moldes prejudicaria o ciclo de aperto pelo Fed. O aumento dos custos de captação em dólares implica condições financeiras mais restritas e, portanto, crescimento econômico menor no exterior, o que poderia impactar os EUA.
Enquanto isso, custos maiores de conversão cambial dificultam o cumprimento de metas de retorno por investidores estrangeiros e os obriga a comprar ativos mais arriscados, o que pode afetar a estabilidade financeira. Para Pozsar, esses dois riscos tendem a caminhar lado a lado com a apreciação adicional do dólar, que, na visão do Fed, diminui a necessidade de apertar a política monetária por meio da elevação dos juros.
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