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Análise: Plano de Trump de US$ 1 tri trará problemas para euro

Marcus Ashworth

21/11/2016 11h05

(Bloomberg) -- Donald Trump foi capaz de desencadear a queda dos preços dos títulos de dívida no mundo todo. Espere até ver o que ele fará com o euro.

O dólar já registra a sequência mais longa de ganhos desde a estreia da moeda única, em 1999, e está em seu nível mais apreciado em aproximadamente um ano. O euro deve se tornar sustentavelmente mais fraco --e sua extraordinária resistência à realidade econômica está prestes a se romper.

A divergência entre EUA e Europa ficou clara no final da semana passada, nas posturas distintas apresentadas nas mesmas 24 horas pela presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, e sua contraparte no Banco Central Europeu, Mario Draghi.

Yellen praticamente confirmou a alta da taxa básica de juros nos EUA em 14 de dezembro. Ela tem em mente o impacto inflacionário do plano de US$ 1 trilhão para infraestrutura do presidente eleito e os esforços para elevar a taxa de crescimento da economia americana para 4%.

A perspectiva de enorme aceleração do gasto basta para deflagrar a disparada sustentável do dólar. Isso já cria problemas para o euro. Paralelamente, a incapacidade persistente da Europa de engendrar uma recuperação econômica oito anos depois da crise financeira ficará mais exposta pela retomada do crescimento nos EUA.

Draghi admitiu que a recuperação da Europa ainda não é firme o bastante para a inflação voltar de forma sustentável e que o atual suporte monetário será "ingrediente importante" nos próximos anos.

Isso sugere que haverá extensão --e talvez expansão-- do programa de compra de títulos do BCE, programado para terminar em março. E assim se foi a expectativa de retirada gradual dos estímulos pela instituição no futuro próximo. Para completar, não há evidências de um plano coordenado para focar em estímulo fiscal.

Outra fonte de pressão cambial vem da proposta de Trump para incentivar a repatriação de lucros pelas multinacionais, permitindo uma anistia fiscal extraordinária a uma alíquota tributária altamente subsidiada. A ideia é que firmas sediadas nos EUA tragam os lucros gerados no exterior para casa, o que levaria essas empresas a vender euros e comprar dólares.

O risco é que, se não executado com cuidado, esse plano poderia levar o mercado de câmbio a tentar se antecipar a gigantes como Apple e Microsoft, que repatriariam montanhas de dinheiro guardado no exterior.

A taxa de câmbio está atualmente em US$ 1,0638 por euro e existe suporte firme ao redor de US$ 1,05. A moeda única é negociada entre este nível e US$ 1,16 desde o começo do ano passado. Com certeza, as condições são apropriadas para que esse suporte seja testado em breve.

No entanto, há limites. Historicamente, o banco central alemão (Bundesbank) defende que a moeda forte é essencial para viabilizar a união. Os alemães certamente insistirão que Draghi e seus companheiros no BCE tomem providências para impedir desvalorização excessiva.

Talvez não seja suficiente. O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi pode perder um referendo sobre reforma constitucional em dezembro. Se isso acontecer, a incerteza resultante pode ser grande fator de baixa para a moeda comum.

Portanto, o euro pode voltar para os níveis observados quando surgiu. Dezessete anos de caminhada para chegar ao mesmo lugar.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.