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Uma mulher deveria comandar Banco da Inglaterra

Mark Gilbert

21/11/2016 12h01

(Bloomberg) -- O Banco da Inglaterra está buscando um novo vice-presidente para começar no próximo ano. Como era de esperar, o anúncio de emprego enumera diversas características desejáveis que os candidatos à vaga deveriam ter. Mas esperemos que a pessoa escolhida tenha alguns atributos que não foram listados na descrição oficial do trabalho; atributos que tornariam o comitê de política monetária do banco central mais representativo da comunidade a que atende. Que também poderiam reconquistar a fé da população em uma instituição valiosa que, de certo modo, está sitiada.

Pesquisas sugerem que os gerentes normalmente preferem contratar pessoas que lhes recordam a si mesmos. Então existe um risco de que os recrutadores para o cargo com salário de 270.000 libras por ano (US$ 335.000) optarão por mais um economista branco do sexo masculino. Isso seria um erro e uma oportunidade perdida. Considerando os ataques recentes à independência do banco central e as críticas de que a política monetária prejudicou grandes segmentos do eleitorado, é mais importante que nunca que a autoridade monetária seja um reflexo da diversidade da sociedade como um todo.

Por isso, estes são alguns dos atributos que o governo deveria buscar quando analisar os candidatos para esse prestigioso cargo.

Romper a barreira invisível

O comitê de política monetária tem nove integrantes, dos quais cinco são funcionários do Banco da Inglaterra e quatro são nomeações externas. Com a saída de Minouche Shafik, mais de dois anos antes do previsto, resta apenas uma mulher, a economista americana Kristin Forbes, no grupo -- e seu mandato de três anos terminará no meio do ano que vem. Dos 30 integrantes anteriores, apenas quatro eram mulheres, incluindo Rachel Lomax, que atuou como vice-presidente de 2003 a 2008. Além disso, Lomax e Shafik foram as únicas integrantes mulheres que eram funcionárias do banco central, em vez de nomeações externas.

Então é bastante óbvio de qual gênero o próximo integrante do Banco da Inglaterra deveria ser para evitar a acusação de "homem, branco e conservador" que se adequa demais a muitas, ou à maioria, das nomeações para cargos públicos. Também seria bem-vindo que, caso tenham que optar por dois candidatos igualmente qualificados, os recrutadores deem certo peso à conveniência de contratar um trabalhador negro, muçulmano ou com deficiência.

Localização, localização, localização

"Todas são pessoas muito respeitáveis e qualificadas, mas são todas de um tipo. Não sei de ninguém que more no Norte", disse o membro do Parlamento John Mann sobre o grupo atual de responsáveis pela política econômica do Reino Unido. Uma das cruéis conclusões da distribuição geográfica dos votos no referendo de junho para sair da União Europeia foi o tamanho da diferença entre os cidadãos da capital e o restante do país.

Não importa que o Banco da Inglaterra trabalhe arduamente para ser visto como inclusivo, visitando o restante do país e contando com uma equipe de agentes que conversa com empresas e consumidores nas regiões, é difícil se livrar da acusação de que ele pertence a uma elite metropolitana que não está em contato com as preocupações de um povoado galês ou de um estaleiro escocês. Por que não ter um integrante trabalhando em Sheffield ou em Aberystwyth que vá a Londres quando for necessário?

Brexit é Brexit

O presidente Mark Carney alertou que seria errado pressupor que todos os membros do comitê de política monetária votaram a favor de permanecer na UE. Eu continuaria apostando 5 libras em que todos os nove foram contra o Brexit. Se o próximo integrante tiver sido um defensor da saída da UE, isso ajudaria a combater as acusações (infundadas, a meu ver) de um viés pró-União Europeia no banco; também poderia melhorar as comunicações com o comitê governamental que vai lidar com as negociações desse divórcio nos próximos anos.

Contratar um empreendedor, não um economista

O anúncio afirma que o candidato de sucesso "terá um conhecimento avançado de economia". Eu argumentaria que, cada vez mais, os economistas profissionais estão tendo que reconhecer que nem eles entendem de verdade o que faz com que as economias funcionem. Considerando a quantidade de tempo que o novo vice-presidente será obrigado a passar em companhia de outros representantes -- "Ele ou ela será integrante do Comitê de Política Monetária, do Comitê de Política Financeira, do Comitê de Regulação Prudencial, do Tribunal do Banco da Inglaterra e também representará o Banco em diversos órgãos internacionais", afirma a descrição do cargo --, talvez seja mais útil não ser um economista profissional, para conseguir resistir ao pensamento de grupo e proporcionar uma experiência e um ponto de vista diferente à discussão.

Já argumentei antes que a falta de gente de negócios nos conselhos de política monetária é uma deficiência grave. Ninguém entende o mercado de trabalho e a economia como alguém que montou uma empresa do zero. Nada faz com que a mente se concentre tanto quanto ter que preparar a folha de pagamento numa sexta-feira. O legislador conservador Andrew Tyrie, que dirige o Comitê Seleto do Tesouro, disse na semana passada em uma discussão sobre os bancos centrais que "a capacidade deles de criar uma teologia é praticamente ilimitada". Ele está completamente certo. Dado o novo entusiasmo entre os bancos centrais com tudo que se relaciona com blockchain, talvez um empreendedor de bitcoin seja o candidato ideal.

Um toque popular

Além de terem personalidades abrangentes e diversas, os responsáveis pela política monetária deveriam simpatizar com os interesses, desejos e ambições de sua base eleitoral. (O presidente Mark Carney revelou, quando foi interrogado por um grupo de crianças em setembro, que o programa televisivo de culinária "The Great British Bake Off" é seu prazer oculto.) O próximo vice-presidente não precisa ser fã de docinhos nem de estruturas tridimensionais feitas com biscoito de gengibre, mas ter consciência do contexto cultural não faz mal.

Neste momento, seria bom se eu pudesse enumerar pelo menos alguns candidatos para o cargo. Infelizmente, o mundo dos negócios e das finanças continua sendo um reduto masculino. Apenas sete das 100 maiores empresas do Reino Unido, por exemplo, são administradas por mulheres (dá para ver o que eu disse sobre a firme presença da barreira invisível?). Estou um pouco perdido. Mas se você conhecer alguém que preencha os requisitos, o Escritório do Gabinete recebe candidaturas até o meio-dia deste 21 de novembro.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.