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Mercado de títulos que movimenta US$ 430 bi ignora efeito Trump

Frances Schwartzkopff

28/11/2016 14h31

(Bloomberg) -- Donald Trump pode ter assustado os investidores globais de renda fixa, mas o maior mercado de títulos lastreados em hipotecas do mundo não dá bola para um futuro no qual um magnata do setor imobiliário com planos de gastar pesado estará comandando os EUA.

Os rendimentos de curto prazo no mercado de títulos hipotecários da Dinamarca, que movimenta US$ 430 bilhões, se aproximaram ou atingiram os menores níveis em registro nos leilões trimestrais de refinanciamento encerrados na semana passada. Isso significa que, excluindo taxas, os investidores continuarão pagando algumas famílias para tomarem empréstimos.

Para Christian Heinig, economista-chefe da divisão de financiamento imobiliário do Danske Bank, a política monetária continua sendo mais importante para os investidores de renda fixa do que as decisões de Trump na Casa Branca.

"São os bancos centrais que têm mais efeito sobre a ponta curta da curva e é isso o que estamos observando", disse Heinig. "Não achamos que o Banco Central Europeu irá subir os juros em 2017" e, contanto que não ocorram eventos extraordinários, "também não há perspectiva de elevação de juros na Dinamarca."

A taxa básica de juros do banco central dinamarquês se encontra em menos 0,65% e ficou abaixo de zero durante a maior parte dos últimos quatro anos e meio, dentro do esforço para defender o atrelamento do câmbio. O mercado de títulos garantidos da Dinamarca tirou máximo proveito desta situação extraordinária, graças a um modelo altamente eficiente de transmissão da política monetária para a economia real.

Os tomadores de empréstimos --60% dos quais contraíram financiamento imobiliário a juros flutuantes-- vendem títulos diretamente ao mercado, usando corretoras que cobram taxas administrativas para manter registro contábil dos empréstimos e canalizar os pagamentos para os investidores.

Os dinamarqueses continuam aproveitando os menores custos de captação da Europa, em parte por causa da demanda de investidores estrangeiros, detentores de quase 22% dos títulos desse mercado, de acordo com a Federação Dinamarquesa de Bancos de Hipotecas.

Na média, as famílias do país pagam 0,6% a menos do que suas contrapartes europeias para tomar empréstimos por cinco anos. Isso mesmo depois de os bancos terem elevado as taxas dos títulos de curto prazo para compensar os riscos de refinanciamento.

No Jyske Bank, segundo maior banco de capital aberto do país, a taxa de juros para prazo de um ano caiu para zero, a partir de leilões realizados pela instituição na semana passada. Um ano atrás, a taxa estava em 0,15%.

Modelo dinamarquês

"Os juros em empréstimos imobiliários são vinculados aos juros baixos dos títulos hipotecários", disse Ane Arnth Jensen, presidente da federação."Portanto, os dinamarqueses se beneficiam diretamente dos juros baixos. Não é o que acontece em outros países."

Por outro lado, a ponta longa da curva dos juros de financiamento imobiliário apresentou alta dos rendimentos após a vitória de Trump, antecipando a necessidade de ampliação da oferta de títulos públicos dos EUA para bancar os gastos planejados pelo ex-apresentador de televisão.

O rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos terminou a semana passada ao redor de 2,36%, vindo de menos de 2% em outubro. É praticamente isso o que as famílias dinamarquesas pagam em empréstimos com prazo de 30 anos. E há sinais de que os custos de captação de longo prazo podem cair mais para os dinamarqueses.