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'Dama de Ferro' do Brasil reduz tamanho do BNDES

Blake Schmidt e David Biller

29/11/2016 15h35

O último andar da sede do Rio de Janeiro do gigante de crédito do Estado brasileiro já foi ocupada por seu presidente e seus assessores, e contava com uma sala reservada para as ocasiões em que o chefe de Estado chegava de Brasília.

O escritório foi uma das primeiras coisas que a presidente Maria Silvia Bastos reformou ao chegar em junho depois que Dilma Rousseff foi afastada durante o processo de impeachment. Bastos, 59, derrubou paredes e abriu espaço para o conselho da companhia. Ela e seus companheiros de equipe se mudaram para o local no mês passado.

Ela também se desfez de oito andares de espaço de aluguel e economizou R$ 490 milhões (US$ 144 milhões) ao eliminar um segundo edifício que teria acomodado o crescente número de burocratas do banco.

"A mudança gera estresse, mas espero que seja para melhor", disse Bastos, que trabalha em um laptop em um escritório com vista para o centro da cidade, reformado com o financiamento do banco para a Olimpíada do Rio. "Infelizmente, muitas vezes os países só se movimentam em crises, e as crises são boas para chacoalhar as coisas."

Bastos, apelidada de "Dama de Ferro" pela imprensa local quando administrou a Companhia Siderúrgica Nacional entre 1999 e 2002, é uma das principais adeptas da austeridade em um país que enfrenta uma grave crise fiscal com um deficit orçamentário quase recorde. O plano radical do presidente Michel Temer de congelar o gasto público durante 20 anos está passando pelo Congresso atualmente.

Bastos vem reduzindo a enorme instituição estatal de crédito que deu impulso a muitos dos gigantes industriais do país com empréstimos subsidiados durante a gestão de seu antecessor, Luciano Coutinho. O dinheiro ajudou essas empresas a se expandir no país e até mesmo no exterior. Uma das primeiras medidas tomadas por ela foi fechar os escritórios internacionais do banco.

Ela mudou o foco para privatizações, concessões de infraestrutura e investimentos no estilo de private equity com o objetivo de recuperar empresas em problemas, mas que são viáveis, ou financiar aquelas que não conseguem crédito em outro lugar. Bastos disse que o BNDES criou uma linha de crédito para comprar ativos de empresas em recuperação judicial.

Durante a administração de seu antecessor, o BNDES se transformou na ferramenta de empréstimo mais agressiva para a intervenção estatal em uma democracia em desenvolvimento. Suas práticas há muito eram secretas e seus livros só foram abertos quando uma investigação sobre corrupção na Petrobras e outros inquéritos criaram pressão para aumentar a transparência.

Em seu novo escritório com vista para o centro do Rio, Bastos estava sentada em sua mesa enquanto seus diretores conversavam a alguns passos de distância, em uma área que antes era dividida por paredes para dar privacidade. Elas foram demolidas a pedido de Bastos.

"Vou lhe dizer uma coisa: não trabalho com restrições", disse Bastos. "Quando o presidente da República me convidou, a única coisa que eu perguntei a ele, eu tenho independência para formar minha equipe para trabalhar? A resposta dele foi sim. Por isso que eu aceitei esse convite. Nós somos gestores profissionais."