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No jogo de pôquer da Opep, Irã e Iraque enfrentam blefe saudita

Reprodução/Pulsamerica
Imagem: Reprodução/Pulsamerica

Javier Blas e Nayla Razzouk

29/11/2016 15h55

Por décadas, a Arábia Saudita mandava e desmandava na Organização de Países Exportadores de Petróleo. De repente, a mesa virou: Riad vê seu poder diminuindo diante das forças renovadas de Irã e Iraque.

Enquanto os ministros integrantes da Opep se preparam para uma reunião na quarta-feira, a Arábia Saudita tenta reafirmar sua autoridade ao indicar que está disposta a se retirar das negociações. Pode ser um alerta genuíno ou um blefe. Mas Teerã e Bagdá talvez estejam dispostas a correr o risco. Já viram a Arábia Saudita ampliando sua fatia de mercado. E nenhum desses centros de poder é tão dependente do petróleo quanto Riad.

"Irã e Iraque presumiram que a Arábia Saudita fará o corte unilateralmente por desejar preços maiores e pensaram que poderiam colocar os sauditas contra a parede", disse Amrita Sen, principal analista de petróleo da Energy Aspects Ltd. "Riad afirmou efetivamente que não está contra a parede e que não fará acordo a menos que todos os demais contribuam."

As consequências podem ser enormes. Se o preço do petróleo subir, gigantes como a Exxon Mobil poderão se ver com caixa suficiente para retomar projetos abandonados. Países em dificuldades financeiras, como México e Rússia, podem ter alívio no orçamento. Se a cotação não subir, é provável que a recente tendência de alta se desmanche.

"Se a Opep não apresentar um acordo com credibilidade para cortar a produção na quarta-feira, os preços do petróleo vão terminar o ano abaixo de US$ 40 por barril e vão buscar US$ 30 no começo do ano que vem", disse David Hufton, presidente da corretora PVM Group, de Londres.

A Arábia Saudita está mantendo a mesma proposta: cortar a produção, mas somente se o Irã congelar a sua nos níveis atuais e o Iraque também diminuir a produção. Irã e Iraque não arredaram o pé.

Os iranianos pretendem primeiramente retomar a produção para os níveis observados antes das sanções, de 4 milhões de barris diários. Os iraquianos estão dispostos a congelar e não a reduzir a produção.

Na segunda-feira, ninguém parecia disposto a ceder. Um comitê encarregado de definir com quem ficará o ônus de baixar a produção se reuniu durante 10 horas, mas o progresso foi limitado, dado que os sauditas exigiram que o Irã fosse proibido de aumentar mais a produção.

Até o último barril

A briga foi até o último barril. Os sauditas disseram que Teerã precisava limitar a produção em 3,707 milhões de barris diários. Teerã ofereceu 3,975 milhões. A diferença representa apenas 0,3 por cento da oferta mundial e pode impedir o acordo.

A frustração dos iranianos era evidente. Em artigo veiculado na segunda-feira pela imprensa oficial, o ministro do Petróleo, Bijan Zanganeh, afirmou que recuperar a produção petrolífera "era a vontade nacional e a demanda do povo iraniano". Assim como a Líbia e a Nigéria, a Arábia Saudita deve aceitar o Irã como caso especial e excluir o país das restrições, segundo o ministro.

Somados, Irã e Iraque produzem mais de 8 milhões de barris diários, comparado a 6 milhões no final de 2014, quando a Opep adotou a política atual de produção a gosto. A Arábia Saudita continua sendo a líder mundial, produzindo mais de 10,5 milhões de barris por dia.

Basta cavar para achar petróleo?

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