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Política externa imprevisível de Trump já começou nos EUA

Damon Winter/ The New York Times
Imagem: Damon Winter/ The New York Times

Nick Wadhams

05/12/2016 12h24

(Bloomberg) -- Mais de seis semanas antes de assumir o cargo, o presidente eleito Donald Trump já está cumprindo sua promessa de tornar a política externa dos EUA menos previsível com uma série de medidas que estão desequilibrando os adversários do país, e também seus aliados.

No período de uma semana, Trump criticou o câmbio e o comércio da China, teve uma conversa sem precedentes com a líder de Taiwan, elogiou a violenta guerra contra as drogas do presidente filipino e prometeu uma visita ao Paquistão, derrubando efetivamente anos de política externa.

Até mesmo quando os novos presidentes desejam mudar políticas, eles costumam ter o cuidado de aderir à rígida e deliberadamente pomposa linguagem diplomática, que existe para evitar desentendimentos que possam provocar consequências imprevistas.

O presidente eleito está mostrando "um abandono bastante drástico" da prática tradicional, disse Aaron David Miller, vice-presidente de novas iniciativas do Wilson Center e ex-assessor do Departamento de Estado dos EUA. "Quando analiso o que parece ser a nova política externa de Trump, vejo muita imprevisibilidade em relação ao processo", disse ele.

O que mais preocupa alguns críticos é a possibilidade de que Trump, que alegou saber mais sobre o Estado Islâmico do que os generais do Pentágono, possa estar tomando decisões precipitadamente ou sem pensar nas repercussões mais amplas de decisões como atender à ligação de Taiwan.

"Ao desestimar a importância desse intercâmbio, eles não admitiram que o processo e as pessoas são política quando se é o presidente dos EUA", disse Mira Rapp-Hooper, integrante sênior do Center for a New American Security e coordenadora de políticas da Ásia para a campanha presidencial de Hillary Clinton.

"Um telefonema para interagir com um determinado personagem, especialmente desta importância, será interpretado como política."

Teoria do louco

Alguns especialistas afirmam que a estratégia de Trump imita a do ex-presidente Richard Nixon e de Henry Kissinger, que atuou como seu assessor de segurança nacional e posteriormente como seu secretário de Estado. Eles tentaram obter vantagem em questões mundiais deixando outros líderes no escuro em relação às intenções de Nixon.

"Nixon brincou com a ideia de que poderia afetar relações internacionais com sua teoria do louco --a noção de que ele poderia convencer líderes estrangeiros de que ele era imprevisível e irracional", disse Nicholas Eberstadt, que ocupa a cadeira Henry Wendt em Economia Política no American Enterprise Institute. "Donald Trump está em uma posição muito melhor que a de Nixon para tirar proveito da teoria do louco."

A conversa de Trump com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, na sexta-feira, gerou inicialmente um protesto moderado de Pequim, que considera a ilha como parte de seu território.

Mas suas críticas contínuas à China --ele acusou o país de ter desvalorizado sua moeda e de ter construído um enorme complexo militar no meio do mar da China Meridional em publicações no Twitter no domingo-- poderiam provocar uma reação mais forte.

"Como país, precisamos ser mais imprevisíveis", disse Trump em um discurso. "Somos totalmente previsíveis. Nós contamos tudo. Vamos mandar tropas? Nós contamos a eles. Vamos mandar outra coisa? Concedemos uma entrevista coletiva. Precisamos ser imprevisíveis e precisamos ser imprevisíveis a partir de agora."