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Ex-emprego de Snowden revela dificuldade em definir 'americano'

Dave McCombs

15/12/2016 12h49

(Bloomberg) -- Abra as entranhas do governo dos EUA -- algo que Donald Trump insinuou que fará -- e o que você vai descobrir?

Um enorme emaranhado de serviços de tecnologia da informação contratados a companhias privadas em todas as áreas, do Obamacare à imigração, das bases da Força Aérea à coleta de informação. Basta olhar para a japonesa NTT Data para ver que algumas das maiores fornecedoras pertencem a empresas estrangeiras, o que poderia deixá-las de fora do estilo de nacionalismo econômico de Trump, que professa "os EUA em primeiro lugar".

Algumas vêm se integrando ao governo há décadas, normalmente operando através de subsidiárias americanas que, em muitos casos, elas adquiriram. Outras escrevem o código, dão consultoria e desenvolvem estratégias em escritórios tanto nos EUA quanto no exterior, o que mostra o quanto pode ser difícil definir se o dinheiro dos contribuintes americanos realmente está indo para empregos americanos.

Por exemplo, a NTT Data, uma unidade americana do antigo monopólio de telefonia do Japão, atende a mais de 50 agências militares e do governo federal e está disputando fatias dos mais de US$ 160 bilhões orçados pelo governo federal para as despesas de TI neste ano e no próximo. Transferir os contratos dessa companhia com sede em Tóquio para concorrentes como Accenture ou Booz Allen Hamilton poderia abrir um buraco na teia de servidores, redes e aplicativos de software do governo.

"É exatamente por isso que o Japão e as empresas japonesas estão empenhados agora em mostrar que na verdade são e foram companhias americanas há muito tempo", disse Martin Schulz, economista sênior do Instituto de Pesquisa Fujitsu em Tóquio.

Mais de metade dos funcionários da NTT Data Federal tem autorização de segurança para ver informações confidenciais. Entre os contratos, há trabalhos com o Exército, a Marinha e a Força Aérea, com o Departamento de Segurança Interna, com a Agência de Combate às Drogas, com a Agência Federal de Financiamento à Habitação e com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. A unidade NTT Data faz negócios com o governo federal desde 1965.

Parte da razão disso é que a NTT Data construiu seus negócios nos EUA à moda antiga: ela comprou concorrentes.

Neste ano, a empresa pagou mais de US$ 3 bilhões por partes das unidades de serviços de TI da Dell, conhecida antigamente como Perot Services, uma empresa de software e consultoria fundada pelo ex-candidato presidencial H. Ross Perot. Antes de ser vendida à Dell, a Perot construiu uma das principais companhias de serviço de TI que atendem ao governo. A companhia japonesa também comprou a concorrente americana Keane International em 2010.

Autorização para Snowden

Para ter uma noção do alcance que a NTT Data no governo dos EUA, tenha em mente que a Dell, com sede no Texas, empregava Edward Snowden, o fugitivo americano acusado em um enorme roubo de informações confidenciais, quando ele obteve sua credencial de segurança em 2012, de acordo com a imprensa. A Dell não quis comentar o emprego anterior de Snowden. Snowden não respondeu a mensagens em sua conta de Twitter.

Então, onde quer que Trump tente refazer ou desfazer o governo, seja a possibilidade de acabar com o Obamacare ou de suprimir a imigração, de criar registros ou vigilância de muçulmanos ou de fortalecer os militares, ele tocará na infraestrutura de TI da NTT Data e de centenas de outras fornecedoras, nacionais e estrangeiras.