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Crise gera desconto para pagamentos em dinheiro no Zimbábue

Brian Latham

13/01/2017 12h51

(Bloomberg) -- Quem entra na fábrica de móveis de Pedzai Nyika, na capital do Zimbábue, recebe imediatamente um desconto de 20 por cento -- desde que pague em dinheiro vivo.

E isso não acontece só lá. A escassez de cédulas que atinge o país do sul da África se tornou tão aguda que as lojas estão oferecendo grandes descontos aos clientes que pagam em dinheiro e limitando as quantias que podem ser cobradas por meio de cartões de crédito ou recusando-os completamente.

"Estou desesperado. Os negócios estão muito ruins, por isso realmente preciso fazer o possível para manter o fluxo de caixa", disse Nyika, 46, por telefone, de seu escritório em Harare. A maioria dos fornecedores de tecidos "aceita apenas notas de dólares, nada mais, e certamente nada de cartão".

O país utiliza principalmente o dólar desde que a má gestão econômica e a inflação desenfreada deixaram sua moeda sem valor há oito anos. A crise de liquidez veio na sequência com os tropeços no crescimento e porque o dólar forte tirou competitividade das exportações do Zimbábue. A crise de liquidez ficou tão severa que os bancos agora estão limitando os saques dos clientes a US$ 150 por semana, limite estabelecido pelo banco central, enquanto o CBZ Holdings, o maior banco do Zimbábue, informou neste mês que suspenderia o uso de cartões Visa para transações locais.

Insatisfação crescente

A crise aumentou a oposição ao presidente Robert Mugabe, que está no poder desde a independência do Reino Unido, em 1980, período no qual o declínio econômico gerou escassez de alimentos, uma taxa de desemprego de mais de 90 por cento e o colapso dos serviços básicos. Mesmo com problemas de saúde, Mugabe, de 92 anos, foi nomeado candidato presidencial pela União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica, partido conhecido pela sigla em inglês Zanu-PF, para as próximas eleições, em 2018.

Em uma tentativa de solucionar a escassez de cédulas de dinheiro, em novembro o governo começou a colocar em circulação as chamadas notas de títulos e emitiu cerca de US$ 73 milhões dos títulos ligados ao dólar até o momento. Apesar de a introdução das notas ter sido recebida com protestos, as previsões iniciais de que elas seriam universalmente rejeitadas não se materializaram, já que os bancos e a maioria das grandes empresas varejistas as reconheceram como divisa legal. No entanto, muitas lojas pequenas, negociantes informais e taxistas não as aceitam ou colocam seu preço em apenas 70 por cento de seu valor nominal em dólares.

"Dólar é dinheiro real. Dólares são aceitos em toda parte", disse Mike Mawere, 54, que vende ferramentas e materiais de construção em uma barraca em Harare. As notas de títulos "são papel, então eu considero que elas têm o valor do papel e da tinta, nada mais".