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Opep enfrenta dilema sobre prorrogação de cortes na produção

Grant Smith, Javier Blas e Margot Habiby

09/03/2017 12h03

(Bloomberg) -- Autoridades nacionais da Organização dos Países Exportadores de Petróleo se reuniram com parceiros e rivais em Houston, nesta semana, para tentar decidir se prolongam os cortes de produção. A decisão só ficou mais difícil após os encontros.

Durante a conferência CERAWeek, realizada na cidade do Texas que é a capital do petróleo dos EUA, representantes da Opep conversaram com a Rússia (principal aliada no esforço de eliminar o excesso global de oferta) e com o setor de xisto dos EUA (principal concorrente do cartel). Líder de fato da Opep, a Arábia Saudita ? que em janeiro declarou que seis meses de cortes na produção seriam suficientes ? parecia ter menos convicção sobre o que fazer em seguida.

Os dados intensificam o dilema. A implementação dos cortes acertados superou expectativas, mas os estoques de petróleo dos EUA aumentam a partir de níveis já máximos e a cotação do barril não avança de pouco mais de US$ 50, sugerindo que mais precisa ser feito. Paralelamente, empresas de exploração nos EUA voltaram a operar a todo vapor e a previsão é que qualquer alta adicional no preço do barril incentivaria esses agentes a produzir mais e ampliar o excesso de oferta.

Esses fatores contribuíram para a queda de 5,4 por cento no contrato futuro de referência para o petróleo nos EUA na quarta-feira, a mais acentuada do ano. Nesta quinta-feira, o barril do tipo West Texas Intermediate (WTI) era negociado por US$ 50,77 às 8:22 em Londres.

"A alavanca positiva é que o cumprimento pelo núcleo da Opep - Arábia Saudita e nações do Golfo - foi muito melhor do que pensávamos", disse Jeff Currie, responsável por pesquisa de commodities do Goldman Sachs Group em entrevista à Bloomberg Television. "A alavanca negativa é que, especialmente nos EUA, a resposta da oferta parece ganhar fôlego bem mais rápido do que acreditávamos."

Os analistas estão divididos quanto à necessidade de prorrogação do acordo. Ed Morse, responsável por pesquisa de commodities do Citigroup, espera continuidade para haver redução suficiente nos estoques de combustíveis. Já o chefe de pesquisa de petróleo do Société Générale, Mike Wittner, argumenta que a Opep precisará aumentar a produção no segundo semestre para atender à demanda.

Brotos que crescem

Os ministros de Energia Khalid Al-Falih, da Arábia Saudita, e Alexander Novak, da Rússia - que costuraram o acordo de corte de produção em dezembro - se esforçaram para apresentar uma frente única. Durante uma entrevista coletiva organizada às pressas na terça-feira, eles insistiram que os cortes estão funcionando e concordaram que seria prematuro afirmar que são necessárias reduções de prazo mais longo.

A incerteza de Al-Falih quando ao prazo de duração dos cortes refletiu uma mudança sutil, mas significativa, para os sauditas. Em janeiro, ele declarou em Davos, na Suíça, que o acordo poderia terminar em seis meses, como acertado inicialmente. Iraque e Angola, que também fazem parte da Opep, se mostraram dispostos a prorrogar os cortes a fim de elevar os preços. Os integrantes se encontrarão em maio em Viena para decidir sobre os próximos passos.

Embora Al-Falih tenha ressaltado que os estoques não estão diminuindo na velocidade esperada e insistido em cumprimento mais rígido do acordo feito em dezembro, ele também repetiu que não permitirá que os cortes sirvam para ajudar rivais.

"Os brotos nos EUA estão crescendo rápido demais", disse Al-Falih. "A Arábia Saudita não será usada" nem "suportará o ônus pelos aproveitadores".