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Agora está provado: Wall Street ainda é Clube do Bolinha

Ben Steverman

14/03/2017 11h57

(Bloomberg) -- Na semana passada, a estátua de uma garota foi instalada temporariamente no Distrito Financeiro de Nova York em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. A "Menina Sem Medo", patrocinada pela State Street, encarava desafiadoramente o touro de bronze que é símbolo de Wall Street.

Mas Wall Street tem muito chão pela frente quando lida com mulheres de carne e osso. Um estudo mostra que as instituições de investimento tratam funcionários do sexo masculino de forma bem diferente quando se metem em encrencas. Embora as mulheres sejam bem menos propensas a cometer atos que configuram má conduta, suas infrações são punidas de modo bem mais severo.

Os professores de finanças Mark Egan, da Universidade de Minnesota, Gregor Matvos, da Universidade de Chicago, e Amit Seru, da Universidade Stanford, analisaram os registros de má conduta e emprego de 1,2 milhão de consultores financeiros nos EUA ao longo de uma década. Os números são impressionantes:

* A probabilidade de registro de grave má conduta por consultores do sexo masculino é o triplo da observada para mulheres na mesma posição: mais de 9 por cento deles cometem erro desse tipo, comparado a 3 por cento no caso das consultoras.

* Porém, após o registro de má conduta, "a probabilidade de as consultoras do sexo feminino perderem o emprego é 20 por cento maior e a probabilidade de elas encontrarem outro trabalho é 30 por cento menor do que no caso dos consultores do sexo masculino", escreveram os autores.

Será que as mulheres são demitidas com maior frequência (e recontratadas com menor frequência) porque seus erros são mais graves? Não. Para encerrar acusações de má conduta contra homens, as instituições estudadas pagaram 20 por cento mais. Além disso, consultores do sexo masculino têm o dobro de propensão a repetir as infrações. "Esses dois resultados sugerem que as firmas deveriam punir consultores do sexo masculino com mais severidade do que as consultoras do sexo feminino", afirmou o estudo.

Será que as instituições demitem mulheres com mais frequência porque são menos valiosas como funcionárias? Não, segundo o estudo. Firmas com proprietárias ou mulheres em cargos sêniores costumam tratar má conduta de forma mais igual entre os sexos. Os autores também analisaram os dados de produtividade. "Mesmo controlando para essas coisas, concluímos que as mulheres ainda são punidas mais severamente por má conduta", disse Matvos em entrevista. "As mulheres têm menos margem de erro para maus passos."

Os resultados dificilmente chocarão as mulheres que atuam no setor. Em pesquisa realizada em 2014, quase 88 por cento das participantes concordaram que existe discriminação sexual na área e 46 por cento afirmaram haver discriminação na própria instituição em que trabalhavam.

"Eu não estou surpresa", disse Pamela Sandy, presidente da Associação de Planejamento Financeiro, que em 2008 fundou a firma de consultoria Confiance, em Cleveland. "Ainda é uma profissão muito misógina. As firmas grandes são clubes do Bolinha."

Os dados sustentam a percepção que, quando algo dá errado, os homens têm mais chances de não serem punidos. Eles são considerados "determinados", enquanto as mulheres são tachadas de "meninas más", disse Sandy. "As exigências para as mulheres são maiores."

As instituições financeiras também tendem a ficar mais de olho nas funcionárias, segundo os dados. A probabilidade de acusação de má conduta contra mulheres pelas próprias firmas onde trabalham é bem maior. Já as acusações contra homens costumam vir dos clientes.