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Air Force One de Trump está pronto para decolar

Garrett M Graff

14/03/2017 12h35

(Bloomberg) -- Donald Trump há muito tempo tem uma coisa com o Air Force One. Ele depreciou o avião presidencial durante a campanha eleitoral, dizendo que ele era "um rebaixamento... em todos os sentidos" em relação a seu próprio avião, um opulento Boeing 757. Ele ridicularizou o alto consumo de combustível dos motores do Air Force One e criticou o ex-presidente Obama por usá-lo para ir a comícios eleitorais e para sair de férias. Depois, em uma terça-feira de dezembro, depois de ter sido eleito presidente, mas antes de ter tido a oportunidade de usar a aeronave, ele pegou seu celular Android e tuitou sobre um novo projeto para substituir o avião presidencial por uma aeronave ainda mais potente e capaz. "Os custos estão fora do controle, mais de US$ 4 bilhões", escreveu ele às 8:52 da manhã. "Cancele o pedido!"

Nos escritórios da Boeing em Washington, D.C., os executivos cancelaram abruptamente sua reunião estratégica matinal de rotina. O projeto Air Force One, monotonamente conhecido como Programa de Recapitalização da Aeronave Presidencial, não havia sido assunto de nenhuma cobertura jornalística recente, mas poucos minutos depois estava nas manchetes de todos os canais a cabo de notícias. Quando a bolsa de valores abriu, as ações da Boeing caíram pouco mais de 1 por cento.

As críticas de Trump foram um tanto equivocadas. Primeiro, o Air Force One é maior, mais rápido e está equipado com uma tecnologia incomparavelmente mais sofisticada que o 757 de Trump, que ele comprou usado (um dos donos anteriores foi uma empresa aérea mexicana de baixo custo). E nenhum dos envolvidos no programa sabia a que "mais de US$ 4 bilhões" ele se referia. Executivos da Boeing observaram que o único gasto público até o momento havia sido um contrato de US$ 172 milhões para estudar as capacidades da nova máquina. Embora construir um novo Air Force One tenha um valor publicitário inegável para a companhia, em termos monetários isso mal se faz notar em uma empresa com receita anual de US$ 95 bilhões. Os executivos resmungam a portas fechadas que, na verdade, a Boeing perdeu dinheiro na última vez em que forneceu novos aviões presidenciais. Mas a companhia tem oportunidades de negócios maiores que poderiam desaparecer se as relações com o presidente desandarem. A Boeing espera obter autorização do governo para um acordo de US$ 16 bilhões para a construção de aviões para o Irã, um contrato que se tornou possível graças ao acordo nuclear que Trump atacou ferozmente.

Depois do tweet, o CEO Dennis Muilenburg fez peregrinações a vários imóveis de Trump para se reunir com o presidente eleito e escutar seus receios. Ele acabou anunciando planos vagos de reduzir o custo do avião e também teceu elogios ao tino comercial de Trump.

Isso bastou para que Trump considerasse essa missão cumprida. Em fevereiro, ele recorria ao Air Force One para viagens regulares a Mar-a-Lago e usou-o como pano de fundo para uma visita às instalações da Boeing na Carolina do Sul. "Esse avião, bonito desse jeito, tem 30 anos de idade", disse ele, gesticulando orgulhosamente. "O que poderia ser tão bonito aos 30?!" Em um comício em Melbourne, Flórida, ele se gabou pela renegociação com a Boeing. "Eles estavam prestes a assinar um acordo de US$ 4,2 bilhões pelo novo Air Force One", disse Trump. "Dá para acreditar? Eu disse: 'De jeito nenhum'. Eu disse: 'Eu me recuso a usar um avião de US$ 4,2 bilhões. Eu me recuso.'" Ele acrescentou: "Conseguimos reduzir esse preço em mais de US$ 1 bilhão e, para ser sincero, é provável que eu não tenha falado mais de uma hora sobre o projeto". Quatro dias depois, um porta-voz da Força Aérea dos EUA disse que não tinha ideia de qual era a economia de US$ 1 bilhão a que Trump se referiu. "Até onde sei, não fui informado de que temos essa informação", disse o coronel Patrick Ryder a jornalistas. "Peço que vocês consultem a Casa Branca."