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Inglaterra diz não a drogas que custam mais que carro ou casa

James Paton

14/03/2017 12h20

(Bloomberg) -- Para pacientes com uma doença hereditária muito rara que provoca sangramento excessivo, inchaço no fígado e deixa os ossos frágeis, a fabricante de medicamentos francesa Sanofi tem uma pílula disponível em países como Alemanha, Grécia e EUA.

Mas não na Inglaterra.

O medicamento contra a doença de Gaucher, que custaria até 250.000 libras (US$ 305.900) por ano, deverá ser rejeitado pelo sistema de saúde estatal mesmo depois de a Sanofi ter oferecido um desconto não revelado pelo tratamento vitalício. A despesa "substancial" de lidar com uma doença que aflige cerca de 250 pessoas na Inglaterra e no País de Gales não pode ser justificada, considerando que existe uma terapia alternativa com enzimas há décadas, informou a assessoria para custos de medicamentos do país nesta terça-feira.

O revés da Sanofi ressalta os desafios da Inglaterra, considerada por muitos um dos mercados mais austeros do mundo desenvolvido no que diz respeito aos pagamentos de medicamentos. Agora o país está mirando doenças extremamente raras, cujos preços exorbitantes anteriormente haviam escapado do escrutínio devido ao número menor de pacientes afetados. Os grandes avanços da medicina trouxeram um novo dilema: há mais tratamentos disponíveis do que nunca na história, até mesmo para as doenças mais mortais e incomuns -- mas eles são, coletivamente, uma carga maior para os governos e os planos de saúde.

"Alguns desses novos tratamentos são surpreendentes", disse Atul Mehta, especialista em sangue do Royal Free Hospital em Londres. "Precisamos descobrir como os pagaremos."

Custos crescentes

O custo dos tratamentos de doenças raras e outros serviços especializados está crescendo rapidamente na Inglaterra, o que representa um risco para a estabilidade financeira do sistema, segundo relatório do ano passado do Escritório Nacional de Auditoria, que analisa gastos para o Parlamento britânico. O orçamento para esses tratamentos deverá aumentar cerca de 30 por cento no período de cinco anos até 2021.

Os críticos afirmam que o Reino Unido, sede da GlaxoSmithKline e da AstraZeneca, já é um retardatário em relação ao pagamento de novos medicamentos caros. As propostas de imposição de um limite aos novos medicamentos para doenças muito raras e às vezes fatais, que deverão ser avaliadas pelo Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (Nice) na quarta-feira, podem prejudicar ainda mais o processo.

Na forma atual, as possíveis mudanças determinam que as novas drogas que buscam financiamento por meio do programa especial do Nice focado em doenças muito raras limitem os custos a 100.000 libras por ano de vida ajustado pela qualidade (QALY), uma fórmula usada na Inglaterra para avaliar a relação custo-eficácia de um tratamento. O setor define um QALY como um ano de vida com saúde perfeita.

O limite proposto de 100.000 libras por QALY é mais de três vezes maior do que o nível padrão para avaliação de medicamentos e promoveria uma consistência maior, afirma o Nice. Em uma tentativa de levar medicamentos com boa relação custo-eficácia mais cedo aos pacientes, as autoridades de saúde também estão avaliando acelerar aqueles que ficam abaixo de uma proporção de 10.000 libras.

"Temos que ser realistas em relação aos desafios enfrentados pelo Serviço Nacional de Saúde e mostrar agilidade e flexibilidade na forma de reagir", escreveu Andrew Dillon, CEO do Nice, por e-mail.