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Graças a hedge, barril a US$ 40 não abala petrolíferas dos EUA

Joe Carroll e David Wethe

15/03/2017 12h57

(Bloomberg) -- O setor de exploração de xisto nos EUA não é o pior inimigo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. A oposição maior ao cartel vem dos contratos de hedge.

Petrolíferas dos EUA que sobreviveram ao pior da crise do mercado em 2014-2016 agora não dão bola para a queda de 14 por cento no barril neste ano, de uma máxima de US$ 55,24 para menos de US$ 48 na terça-feira. A cotação teria de cair para a casa de US$ 30 ou menos para prejudicar o lucro de muitas empresas que estão perfurando os campos de xisto dos EUA, de acordo com Katherine Richard, presidente da Warwick Energy Investment Group, que tem participações em mais de 5.000 poços de petróleo e gás natural.

Isso porque muitas produtoras já garantiram retorno futuro por meio de contratos financeiros que fixam o preço do petróleo que produzirão na maior parte do resto da década. Essa resistência impõe um dilema a países que aderiram ao corte de produção liderado pela Opep, com o objetivo de reduzir a oferta para elevar os preços e assim ajudar suas economias.

"Estamos novamente em ascensão no Texas, a despeito do que tem acontecido com os preços ultimamente", disse Michael Webber, vice-diretor do Instituto de Energia da Universidade do Texas, em Austin. "O espírito dos caubóis está de volta. As operações de hedge desempenham papel importante."

A cotação do petróleo foi abalada novamente na terça-feira, após a Arábia Saudita soltar uma bomba na Opep: o país de maior peso no cartel de 13 nações aumentou a produção no mês passado para mais de 10 milhões barris diários, revertendo praticamente um terço dos cortes realizados no mês anterior.

Apesar do aumento, a Arábia Saudita ainda está cumprindo o que prometeu. Mas outros integrantes não estão e a revelação dos sauditas intensificou expectativas de que o grupo não conseguirá adesão suficiente aos cortes a ponto de fortalecer o mercado.

Crítica aos aproveitadores

Na semana passada, o ministro de Energia, Khalid Al-Falih, declarou durante uma conferência em Houston que a Arábia Saudita não iria "carregar a farda dos aproveitadores" indefinidamente ? uma crítica velada à Rússia, Iraque e Emirados Árabes Unidos, que ainda não executaram os cortes que prometeram. Já o bilionário Harold Hamm, fundador da Continental Resources, alertou que a perfuração ilimitada nos campos de xisto derrubaria os preços e "mataria" o mercado de petróleo.

Para Katherine Richard, da Warwick, os preços vão cair ainda mais nos próximos meses. Empresas que detêm direitos de perfuração nas zonas mais abundantes em xisto continuarão obtendo retorno generoso e por isso vão produzir ainda mais, enquanto as companhias mais fracas que não atuam nos melhores locais vão penar, segundo ela.

Queda de preços

O barril do tipo West Texas Intermediate (WTI), que é referência do mercado americano, fechou em US$ 47,72 na terça-feira na Bolsa Mercantil de Nova York, mas mais cedo atingiu US$ 47,09, o menor preço desde novembro. Os contratos futuros perderam 9,7 por cento apenas na última semana.

As operações de hedge são uma forma de as petrolíferas se protegerem de um potencial colapso do mercado. Equipes de gestão de risco compram e vendem derivativos (como opções) que estabelecem piso e teto para o preço do petróleo produzido pela empresa. Os bancos na outra ponta da operação recebem comissão e podem embolsar ganhos adicionais se o mercado se mover a favor deles. Se o preço cair, a petrolífera estará protegida.