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Padarias venezuelanas viram alvo do governo de Maduro

Nathan Crooks e Noris Soto

16/03/2017 16h26

(Bloomberg) -- As padarias venezuelanas são o mais recente setor atacado pelo governo do presidente Nicolás Maduro em um momento de filas cada vez maiores para comprar pão na capital Caracas.

O governo ordenou que as padarias utilizem seu escasso suprimento de farinha para produzir pães com preços controlados e disse que apenas 10 por cento do produto pode ser usado para produzir os itens desregulados e caros adorados pelos venezuelanos, entre eles os cachitos -- um tipo de croissant que pode ser recheado de presunto ou queijo. O governo despachou funcionários reguladores de preços a centenas de padarias de Caracas nesta semana para garantir o cumprimento da ordem.

"Haverá uma equipe destacada para cada padaria para termos vigilância e controle permanente sobre as 709 padarias de Caracas", disse o vice-presidente, Tareck El Aissami, no domingo. "Nós identificamos parte das conspirações e da sabotagem" que impediam que o pão chegasse à população.

A Superintendência de Preços Justos da Venezuela (Sundde) informou na quarta-feira, em comunicado, que diversos gerentes de padarias haviam sido levados à procuradoria pública por usarem seus suprimentos de farinha apenas para produção de doces, cachitos e outros itens caros. Outros dois padeiros foram presos por fazerem brownies com farinha vencida, informou a Sundde.

Fila do pão

As filas para comprar pão têm sido comuns em Caracas nos últimos meses porque as pessoas esperam para comprar o pão vendido ao preço regulado de apenas 650 bolívares (cerca de US$ 0,92 pela taxa de câmbio mais desvalorizada e muito menos que isso pela taxa do mercado paralelo). Com a inflação mais elevada do mundo, que supera por muito o território dos três dígitos, as padarias normalmente sobrevivem vendendo itens mais caros e não regulados aos clientes de classe média e alta que podem pagar o preço atual de até 2.000 bolívares por cada cachito.

Cerca de 80 por cento das padarias esgotaram seus estoques de farinha e as 20 por cento restantes receberam apenas 10 por cento do suprimento mensal regular, informou a Federação da Indústria da Panificação da Venezuela (Fevipan), em postagem em sua conta no Twitter na quinta-feira.

Até esta altura do ano, as importações de trigo da Venezuela caíram 200.000 toneladas, para 1,3 milhão de toneladas, porque a situação econômica ruim afetou a demanda, informou o Serviço de Agricultura Estrangeiro do Departamento de Agricultura dos EUA em seu relatório de março.

Desde sua posse, em 2013, Maduro governa o país em meio a um colapso econômico quase sem precedentes fora de períodos de guerra e a escassez de todo tipo de produto, de alimentos a medicamentos, é cada vez mais comum. O governo reduziu as importações para tentar manter em dia suas obrigações de dívida externa e as reservas internacionais do país se aproximam do menor nível em 15 anos, de US$ 10,4 bilhões.