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Miséria vista do espaço é demais para investidor na Venezuela

Selcuk Gokoluk

20/03/2017 10h28

(Bloomberg) -- São muitas as razões pelas quais a BlueBay Asset Management reduziu seus ativos em títulos venezuelanos, das prateleiras vazias nos supermercados de Caracas até a escassez de peças de reposição para automóveis em todo o país.

Mas poucas foram mais convincentes do que a fotografia de satélite de Puerto Cabello, na costa do Caribe, que abriga o maior porto do país. Na imagem, um terminal antes vibrante agora aparece sem navios.

"Quando se consegue ver do espaço o declínio econômico de um país é sinal de que ele está com grandes problemas", disse Graham Stock, chefe de pesquisa soberana de mercados emergentes em Londres da BlueBay, que reduziu seus ativos em dívidas do país para níveis abaixo da referência. Ele estima que as importações da Venezuela tenham caído até 50 por cento nos últimos dois anos.

A empresa de investimentos, que gerencia US$ 50 bilhões, ignorou os sinais de alerta sobre a debilitada economia da Venezuela no ano passado e comprou dívidas em dólares do país, que deram retorno de cerca de 50 por cento em 2016, disse Stock. Mas o governo consumiu suas reservas de moeda estrangeira, que caíram para US$ 10,4 bilhões, total próximo ao menor patamar em 15 anos e equivalente a cerca de 10 por cento da dívida total do país, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O governo do presidente Nicolás Maduro utilizou todas as suas reservas, disse Stock. Agora precisa escolher entre pagar títulos ou importar ainda menos alimentos em um momento em que os padeiros são questionados pela procuradoria pública por utilizarem seus suprimentos de farinha para produzir doces.

Risco de calote

As autoridades poderão gerar agitações sociais se reduzirem os investimentos, mas também terão dificuldades para encontrar ativos para colateralizar novos empréstimos, disse Stock, para quem a probabilidade de calote subiu neste ano de 30 por cento para 50 por cento.

"O governo efetivamente deixou de publicar dados econômicos", disse Stock. "Não sabemos qual é a inflação, qual é o PIB. O presidente do banco central deu a entender que a inflação do ano passado foi de cerca de 700 por cento e foi demitido."

A recuperação do preço do petróleo não é forte o suficiente para ajudar a Venezuela a realizar pagamentos da dívida externa, disse Stock. O petróleo Brent subiu cerca de 25 por cento em relação a um ano atrás, para US$ 51,34 o barril nesta segunda-feira, mas ainda tem metade do preço médio de 2014. O país possui as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg.

"Atualmente estamos menos confiantes em relação à capacidade da Venezuela para atravessar 2017", disse Stock. "Chega-se a um ponto em que já não é possível comprimir mais a atividade."