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Usinas de energia sobreviveram à guerra, mas talvez não a Merkel

Weixin Zha e Jesper Starn

20/03/2017 10h26

(Bloomberg) -- Após sobreviverem às bombas em tempos de guerra e às expropriações na era soviética, algumas usinas de energia da Europa Central enfrentam a extinção devido aos preços baixos, às tecnologias mais recentes e à burocracia em Berlim.

As instalações que agora estão em risco ganhavam dinheiro comprando energia barata à noite para bombear água montanha acima e depois liberá-la para baixo para mover os geradores durante o dia, quando os preços eram mais elevados. Embora fossem máquinas de dinheiro antes da era da energia eólica e solar, as condições de mercado atualmente são tão ruins para as plantas de água bombeada que a sueca Vattenfall e a norueguesa Statkraft afirmam que poderão fechar plantas na Alemanha e a Alpiq Holding quer se desfazer de algumas unidades na Suíça.

Este é mais um exemplo de como a Energiewende, um projeto sem precedentes da chanceler Angela Merkel, deu errado. Desenvolvido para iniciar em segundos, o armazenamento bombeado é ideal para suavizar as flutuações na oferta de energia amplificadas pela expansão das fontes renováveis, que são intermitentes. Enquanto as energias solar e eólica recebem 20 bilhões de euros (US$ 21 bilhões) em subsídios por ano de Berlim, as plantas de água bombeada não recebem nada além de mais regulações e tarifas crescentes para acesso à rede.

"Eu ficaria realmente perplexo se todas essas usinas fechassem", disse Andreas Gandolfo, analista da Bloomberg New Energy Finance, por telefone, de Londres. "Criaram um reservatório, escavaram a montanha, colocaram concreto. Por que substituir uma tecnologia que já está à disposição?"

O salto da geração de energia solar minou o tradicional ágio do pico registrado durante o dia em relação às tarifas noturnas para apenas 25 por cento. Em 2008, a diferença era mais de quatro vezes superior. Até mesmo a renda da oferta quase instantânea de energia para a rede em momentos de demanda alta diminuiu, chegando a cair 95 por cento nos últimos seis anos.

Além disso, as operadoras de usinas de armazenamento hídrico de mais de 20 anos precisam pagar para usar a rede quando utilizam eletricidade para bombear porque são consideradas consumidoras pelo órgão regulador. A tarifa consome quase todo o lucro delas, segundo a Associação Alemã das Indústrias de Energia e de Água, ou BDEW.

"Estamos brigando para que as usinas existentes permaneçam no sistema", disse Maren Petersen, chefe de geração e integração de sistema da BDEW em Berlim. "Nós dizemos que o melhor apoio é tirar os grilhões e criar as mesmas condições de competição."

O armazenamento bombeado é necessário em um momento em que a Alemanha se adapta ao crescimento das energias renováveis e em que as produtoras já obtêm algumas regalias, segundo Beate Baron, porta-voz do Ministério da Economia do país. Por exemplo, as novas instalações, como uma proposta de conversão de uma antiga mina de carvão alemã, não recebem cobrança de tarifas de rede em seus 20 primeiros anos de operação.

A Alemanha conta com sete gigawatts de ativos de armazenamento bombeado, capacidade equivalente aos cinco maiores reatores nucleares do país. As instalações vão desde a Goldisthal, uma unidade de um gigawatt da Vattenfall aberta em 2003, até a Koepchenwerk, da RWE, cuja instalação original sobreviveu a ataques a bomba na Segunda Guerra Mundial. As represas alemãs estavam entre os alvos industriais estratégicos dos bombardeiros aliados.