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Acordo desvantajoso no Brexit pode ser melhor do que desacordo

Simon Kennedy

24/03/2017 13h51

(Bloomberg) -- O mantra dentro do governo britânico durante os preparativos para definir as condições de sua separação da União Europeia é que é melhor não fazer acordo do que fazer um acordo ruim.

Sair das negociações sem um regime para os 230 bilhões de libras esterlinas (US$ 287 bilhões) em exportações anuais ao bloco e os 3,3 milhões de europeus no Reino Unido seria "perfeitamente aceitável", diz o secretário de Relações Exteriores do país, Boris Johnson. Não seria nem um pouco "assustador", diz o czar do Brexit, David Davis.

Mas analistas estão pintando um quadro totalmente diferente de um resultado que eles consideram cada vez mais plausível: a primeira-ministra britânica, Theresa May, rejeitará as exigências da UE ou desistirá de conseguir o acordo comercial integral que ela quer. E um fracasso dos dois anos de negociações, que May deverá iniciar na semana que vem, geraria custos e regulamentações que poderão prejudicar o Reino Unido bem mais do que a UE.

"Chegar a um acordo exigirá muito mais tempo, boa vontade e tato do que ambas as partes vêm mostrando", disse Anand Menon, diretor do grupo de pesquisa The U.K. in a Changing Europe, que estima uma chance de 50 por cento de não haver um acordo em 29 de março de 2019. "Tenho muita dificuldade para imaginar que May vai conseguir tudo o que ela quer."

Território desconhecido

Se May de fato desistir de um acordo, o Reino Unido realmente entraria em um território desconhecido. Com base em entrevistas e análises publicadas, este é um mapa aproximado do que poderia acontecer se o Reino Unido abandonar a UE sem uma rede de segurança.

Jordan Rochester, estrategista da Nomura International em Londres, projeta que a libra cairia para US$ 1,15, ampliando seu declínio pós-referendo para quase um quarto. No dia de 2013 em que David Cameron anunciou sua intenção de convocar um referendo, a libra valia US$ 1,58.

Enquanto isso, empresas ativariam planos para o desmoronamento no que elas descrevem há tempos como a "beira do penhasco" da incerteza. Sem um acordo, o Reino Unido abriria mão do comércio sem tarifas alfandegárias nem atritos com os 440 milhões de consumidores da UE e abandonaria qualquer esperança de uma etapa de transição para se ajustar.

Isto reduziria o comércio cerca de 30 por cento, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social do Reino Unido. A Oxford Economics estima que o PIB perderia 3,9 por cento até 2030, 96 bilhões de libras em termos ajustados à inflação.

O JPMorgan Chase & Co. e outros bancos que esperavam continuar atendendo ao bloco de Londres provavelmente acelerariam a transferência de empregos e operações para a UE ou Nova York. A consultoria Oliver Wyman estimou que, na pior das hipóteses, 70.000 empregos de serviços financeiros seriam eliminados.

Detonador

O detonador mais provável do fracasso das negociações é a exigência de que o Reino Unido pague para sair. A necessidade da UE de impedir outras iniciativas de separação requer a imposição de um custo ao país - um ajuste de contas, na visão de Bruxelas.

"Temos que calcular cientificamente quais eram os compromissos britânicos e depois a conta tem que ser paga", disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, à BBC nesta sexta-feira. Consultado se a conta será de 50 bilhões de libras, Juncker respondeu: "Em torno disso".