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Com May isolada, Reino Unido se prepara para revide da UE

Timothy Ross

27/03/2017 13h58

(Bloomberg) -- Aumentaram as preocupações no governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, de que a União Europeia tentará punir o Reino Unido por sair do bloco. Paralelamente, críticos a acusam de não fazer o bastante para agradar suas contrapartes, em meio aos preparativos para o início do Brexit.

Três integrantes do alto escalão do governo May disseram que o maior obstáculo à conquista de termos favoráveis à saída do bloco e a um novo acordo de livre comércio seria um revide "emocional" da UE pela decisão do eleitorado britânico em junho. Uma dessas pessoas disse que a primeira-ministra não se esforçou o suficiente para conquistar líderes da UE, alertando que a incapacidade dela de esfriar a hostilidade pode virar uma desvantagem nas negociações. Todos os três pediram anonimato à reportagem porque as discussões são privadas.

Diante desse pano de fundo, o secretário do Brexit, David Davis, se prepara para uma rodada intensa de diplomacia nas próximas quatro semanas, em um esforço para convencer outros países da UE a conceder ao Reino Unido um divórcio amigável. Analistas também sugerem que May pode expressar um tom conciliador na carta que enviará na quarta-feira, saindo formalmente do bloco.

"O tom das negociações é tão importante quanto o conteúdo e até o momento não está muito bom", disse a parlamentar Emma Reynolds, do Partido Trabalhista, de oposição, que participa do Comitê do Brexit. "Não acho que a primeira-ministra ou qualquer outra pessoa no governo tenha feito o suficiente para construir as alianças e amizades com contrapartes da UE que serão cruciais para se chegar a um bom negócio."

Rejeição a May

May se prepara para invocar o Artigo 50 - o mecanismo jurídico de saída da UE - em dois dias. Após esse passo, virão dois anos de negociações ? período em que o Reino Unido pretende acertar o divórcio e negociar um pacto abrangente de livre comércio com a UE.

As fontes do governo britânico dizem que a UE se ofendeu com a rejeição pelo Reino Unido e que os políticos europeus têm um compromisso emocional com a integração do bloco que o Reino Unido nunca teve. Esse descompasso psicológico está se tornando o maior problema de May, segundo eles.

Contudo, exatamente quando a primeira-ministra precisa de relacionamentos mais próximos com líderes europeus, ela parece mais isolada. Ela não compareceu no sábado às comemorações dos 60 anos do Tratado de Roma, que fundou a UE. E apesar de viajar para se encontrar com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, François Hollande, logo após tomar posse no ano passado, May desde então tem sofrido rejeição.

Para autoridades britânicas, Merkel será fundamental para May obter o acordo de livre comércio que deseja, mas a líder alemã bloqueou os esforços da britânica para obter um acordo antecipado de proteção dos direitos dos cidadãos da UE que vivem no Reino Unido e dos britânicos que vivem em outros países europeus.

Na tentativa de ganhar aliados, Davis vai viajar para capitais europeias entre 29 de março (quando May ativar o Artigo 50) e 29 de abril (quando 27 líderes da UE se reúnem para costurar a posição unificada de negociação).

UE e Reino Unido tentaram chegar a um tom mais amigável nas últimas semanas, com a aproximação das negociações. Porém, com tanto em jogo, nenhum dos lados pode se mostrar fraco ou disposto a ceder logo no início do processo.