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Ordem de Trump pode reverter esforços de Obama sobre clima

Jennifer A. Dlouhy

27/03/2017 14h28

(Bloomberg) -- O presidente dos EUA, Donald Trump, está prestes a sancionar uma abrangente ordem executiva, nesta terça-feira, que visa a promover o petróleo, o carvão e o gás natural do país, revertendo boa parte os esforços de seu antecessor para combater a mudança climática -- e gerando alertas de que a medida minará a liderança dos EUA em relação ao assunto.

O documento estabelece um plano amplo do governo Trump para desmantelar a estrutura construída pelo ex-presidente Barack Obama para combater o fenômeno, segundo detalhes compartilhados com a Bloomberg News. Parte dessas mudanças aconteceriam imediatamente, enquanto outras levariam anos para serem concluídas.

"Ele está tentando desfazer mais de uma década de progresso no combate à mudança climática e na proteção da saúde pública", disse David Doniger, diretor do programa de clima e ar limpo do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC, na sigla em inglês), por e-mail. "Mas ninguém votou para abandonar a liderança dos EUA em termos de ação climática e da revolução da energia limpa. Esse recuo radical vai se estrelar contra um grande muro de oposição."

O decreto obrigará as agências federais a identificarem rapidamente qualquer ação que possa atrapalhar a produção ou o uso de recursos de energia nacionais, incluindo energia nuclear, e depois trabalhar para suspender, modificar ou revogar as políticas, a menos que elas que tenham sido introduzidas por ordem judicial, que sejam necessárias para o interesse público ou que promovam o desenvolvimento.

Pró-crescimento

A medida também revogará duas ordens da era Obama que davam um papel de destaque para as mudanças climáticas na elaboração de políticas na esfera federal. Uma delas aconselhava as agências do governo a incluir a mudança climática nas análises ambientais, como por exemplo aquelas que definem onde as perfurações petroleiras devem ser realizadas. A outra, chamada "custo social do carbono", é um indicador que reflete o potencial dano econômico das mudanças climáticas e que foi usado pelo governo Obama para justificar uma série de normas.

"O que está em jogo é a garantia de ter uma abordagem pró-crescimento e pró-meio ambiente para criar regulações neste país", disse Scott Pruitt, chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, no programa "This Week", da ABC, no domingo.

Trump, que afirmou que a mudança climática é um engodo, prometeu reorientar o governo para que as produtoras de petróleo e de carvão dos EUA prosperem e para que as fabricantes de aço e de automóveis não enfrentem "restrições que matam empregos". A ordem iminente ressalta o comprometimento de Trump em cumprir suas promessas de campanha, que contribuíram para sua vitória em redutos industriais como Virgínia Ocidental e Pensilvânia.

Alguns analistas questionam se a reversão das regras pode salvar os empregos das produtoras de carvão. Acabar com o Plano de Energia Limpa não é suficiente para desencadear uma recuperação do carvão e evitar uma onda de aposentadorias planejadas de usinas de energia que utilizam o combustível fóssil, disse Kevin Book, analista da empresa de pesquisa ClearView Energy, com sede em Washington.

"Mesmo sem o Plano de Energia Limpa, ainda há 14 gigawatts de aposentadorias de usinas movidas a carvão relacionadas a" uma regra de poluição por mercúrio e a "dinâmicas de mercado que estão em compasso de espera", disse Book.