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Setor turístico dos EUA teme sofrer por medidas de Trump

Justin Bachman

27/03/2017 14h11

(Bloomberg) -- Como muitos grupos de lobby de Washington, a U.S. Travel Association (USTA) não demorou a parabenizar o novo presidente pela sua vitória em novembro.

"Estamos animados porque a longa trajetória empresarial e hoteleira de Trump (...) fará dele um ouvido atento e receptivo", afirmou a associação do setor. Na posse do republicano, o CEO da USTA, Roger Dow, prometeu que o setor seria um "sócio capaz e disposto".

Mas a situação começou a desandar quase imediatamente. Parecia provável que um fluxo constante de notícias e proclamações políticas prejudicasse o setor turístico dos EUA, de US$ 250 bilhões, e seus aproximadamente 15 milhões de funcionários no país.

Os primeiros contatos entre Trump e os líderes da Austrália, da Alemanha, do México e da China não saíram bem, o que gerou propaganda negativa em países que mandam muitos turistas para os EUA. Depois vieram os vetos à entrada nos EUA de pessoas de países de maioria muçulmana, com protestos e uma cobertura da imprensa que causaram um desastre global de relações públicas. O primeiro veto, desde então suspenso por tribunais, resultou na detenção de passageiros estrangeiros. O segundo, uma modificação do primeiro, foi congelado antes de entrar em vigor. Trump entrará com recurso.

Por sua vez, a Casa Branca proibiu que passageiros que embarcaram em aeroportos de oito países utilizem aparelhos eletrônicos a bordo. E, na semana passada, foi divulgada uma política do Departamento de Estado americano que exige uma verificação adicional de quem solicitar vistos em países onde as pessoas que viajam para os EUA devem solicitar visto. Isto inclui a inspeção de contas de redes sociais em alguns casos, e viajar para os EUA provavelmente ficará mais difícil para milhões de pessoas.

A ordem não se aplica a 38 países no programa de entrada sem visto aos EUA, mas outros terão que esperar. A nova política abrange países com milhões de pessoas que viajam a negócios e turistas internacionais, entre eles o Brasil, o México, a China, a Argentina, a Colômbia e a África do Sul. Cerca de 15 milhões de passageiros serão afetados por ano, estimou a USTA.

Gota d'água

As novas normas sobre vistos podem ter sido a gota d'água para a USTA. Na semana passada, a associação de Dow emitiu um comunicado quase choroso: "Senhor presidente, por favor, diga ao mundo que estamos fechados ao terrorismo, mas abertos aos negócios. A comunicação desequilibrada é especialmente susceptível a 'se perder na tradução' - portanto, trabalhemos juntos para informar a nossos amigos e vizinhos, que poderiam se beneficiar sendo tranquilizados, não apenas quem já não é mais bem-vindo aqui, mas também quem continua convidado a vir".

O discurso de Trump e sua impopularidade no exterior provavelmente reduzirão o número de chegadas internacionais em 4,3 milhões neste ano, segundo a empresa de estratégia de mercado Tourism Economics. Nova York, Los Angeles e Miami estão expostas a qualquer declínio por serem alguns dos destinos mais populares para os turistas estrangeiros.

Dow diz que ele ainda tem esperança de que o presidente "esclareça" suas políticas para que os viajantes internacionais não decidam evitar os EUA. "Donald Trump entende isso, ele é dono de hotéis", disse Dow. "Ele entende o viajante internacional."