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Candidata do establishment chileno quer reconquistar eleitor

Javiera Quiroga

28/03/2017 14h00

(Bloomberg) -- Em um momento em que os outsiders estão com força total, a candidata a presidente Carolina Goic compõe o coração do establishment político do Chile e se orgulha disso.

Como senadora e líder do Partido Democrata Cristão no último ano, ela diz coisas como "nós, do partido, pensamos" e "nós da DC [Democracia Cristã] acreditamos". A candidatura dela teve uma "motivação coletiva enquanto partido".

Mas o rival de Goic na liderança da base aliada na eleição de novembro é o ex-entrevistador de TV e outsider autodeclarado Alejandro Guillier. Ligado ao minúsculo Partido Radical, embora não seja membro, Guillier não possui a bagagem partidária de Goic em um país onde uma série de escândalos deixou os eleitores céticos em relação aos políticos. Rejeitar políticos de partidos não é a melhor maneira de atrair os eleitores de volta, alertou Goic.

"Eu não gosto quando alguém rejeita a política", disse Goic, em entrevista, na sexta-feira, em Santiago. "Temos que demonstrar que podemos fazer as coisas bem por meio da política. Esse é o caminho para recuperar a confiança."

Não será fácil. Os escândalos dos últimos três anos revelaram que grandes empresas estavam financiando ilegalmente todos os grandes partidos do Chile, menos o Comunista, e ao mesmo tempo sonegando impostos.

Sem comprometimento

Os escândalos e três anos de crescimento econômico lento elevaram o índice de desaprovação do governo a 78 por cento em fevereiro. Fiel ao partido, Goic afirma que o motivo é outro.

"Isto se deve em grande parte à nossa própria desordem, porque não parece que estamos todos trabalhando juntos com comprometimento", disse ela.

Este é um comentário que torna difícil de entender sua recusa em aderir a um princípio da base aliada. Ela fala sobre a necessidade de uma "estrutura programática", de "acordos políticos" e de "apoio do Congresso" antes de falar em compromisso. O significado prático disso é difícil de decifrar.

Guillier alerta que sua recusa em participar seria o começo do fim da base aliada que governou o Chile em 22 dos últimos 26 anos.

A última pesquisa de opinião da GfK Adimark mostra que Goic tinha o apoio de 1 por cento da população em fevereiro, antes de anunciar sua candidatura.

'Não há desculpa'

Goic teme que Guillier seja radical demais, mas não deveria. Em certos momentos da entrevista, ela pareceu ser mais radical que ele. Ela ressaltou a necessidade de reformar o sistema de saúde privada do Chile, afirmando que "não há desculpa" para não combater suas desigualdades.

Guillier, um ex-porta-voz das empresas de saúde privada, nunca mencionou a questão.

Ainda assim, em um momento em que muitas pessoas da comunidade empresarial culpam a decisão da presidente Michelle Bachelet de elevar os impostos e fortalecer os sindicatos pelos três anos de menor crescimento desde o início dos anos 1980, Goic afirmou que as políticas futuras precisam ser melhor elaboradas e implementadas mais lentamente. O governo pode ter "pecado por excesso de entusiasmo", disse ela.