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El-Erian vê fim do 'novo normal' e contaminação política

Katherine Chiglinsky

28/03/2017 11h47

(Bloomberg) -- Mohamed El-Erian, o principal assessor econômico da Allianz SE, afirma que a expansão lenta, porém firme, da economia após a crise financeira corre riscos, caso os políticos não consigam tomar dos bancos centrais as rédeas do estímulo, implementando reformas estruturais.

"Se não fizermos essa transição", disse El-Erian em entrevista à Bloomberg Television nesta terça-feira, "vamos descobrir que os bancos centrais são menos eficazes na repressão à volatilidade financeira e menos eficazes na promoção do crescimento. O sistema político vai ficar mais complicado, a política vai contaminar a economia ainda mais. E então os mercados precisarão se perguntar se os valores fazem sentido diante do pano de fundo econômico e político."

A disparada das bolsas após a eleição inesperada de Donald Trump à Casa Branca ficou no passado. O Dow Jones ainda acumula alta de aproximadamente 12 por cento desde 8 de novembro, mas caiu por oito pregões consecutivos ? a sequência mais demorada de perdas desde 2011. Investidores temem que Trump não consiga emplacar sua agenda pró-crescimento após não aprovar um plano para reverter as reformas na saúde implementadas pelo antecessor Barack Obama.

El-Erian popularizou a expressão "novo normal" para descrever o longo período de crescimento lento no mundo após a crise de crédito de 2008. Embora o banco central dos EUA (Federal Reserve) tenha trabalhado para estimular a economia por meio de juros baixos e expansão do balanço patrimonial, o Congresso tem mostrado dificuldade para reformar a estrutura tributária ou aprovar melhorias na infraestrutura que poderiam impulsionar o crescimento no longo prazo.

'A boa notícia'

Mesmo em tempos de queda do desemprego, a participação da força de trabalho diminuiu nos EUA. Os ganhos econômicos não chegaram a boa parte da classe operária, abrindo espaço para a ascensão de Trump. O mesmo se observa com o avanço de movimentos populistas ao redor do mundo e que defendem barreiras comerciais, alarmando muitos economistas.

"O caminho que temos percorrido há tanto tempo, o chamado 'novo normal', está chegando ao fim porque está sendo consumido por suas próprias contradições", afirmou El-Erian, que também é colunista da Bloomberg View. "A boa notícia será se houver respaldo em uma recuperação do crescimento puxada por medidas governamentais e aumento dos lucros. Se não, podemos caminhar na direção oposta."

Ele relata que muitos investidores estão segurando quantias enormes de dinheiro, o que pode suavizar turbulências se os políticos não entregarem soluções governamentais. Ainda assim, essa suavização não duraria para sempre, segundo El-Erian.

"Acho que temos um par de anos", ele disse. "Enquanto houver dinheiro, isso limitará a reação do mercado. Mas chegará um momento em que não estará mais lá."