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Análise: Como salvar o Twitter

Virginia Postrel

29/03/2017 14h21

(Bloomberg) -- O Twitter é a prova de que uma startup pode mudar o mundo sem desenvolver um modelo de negócio viável. A empresa, que afirma ter 319 milhões de usuários ativos, é "um sucesso e um fracasso ao mesmo tempo", observou a repórter de tecnologia da Bloomberg Sarah Frier depois que as expectativas de receita e lucro do Twitter ficaram abaixo das estimativas dos analistas, no mês passado.

Por que então não tentar uma medida drástica? Cobrar pelo verdadeiro valor do Twitter: a oportunidade de tuitar.

Entregue a todos um pequeno suprimento de tuítes gratuitos, por exemplo cinco por semana. A partir daí, cobre alguns centavos por cada novo tuíte. O lema poderia ser "dê ao mundo sua contribuição de dois centavos". Para o pontapé inicial, a companhia poderia entregar a todos um dólar ou dois de crédito.

O Twitter já está estudando uma assinatura paga orientada a pessoas que utilizam o Twitter para os negócios. A assinatura daria a elas um feed livre de anúncios e mais dados analíticos com uma versão melhorada do aplicativo Tweetdeck da companhia. Isso simplesmente coloca o modelo "freemium" um passo mais adiante.

É fácil prever as objeções. Os micropagamentos têm um histórico péssimo. Mas isto se baseia em um modelo diferente: pagamentos de leitores. Aqui, os publicadores frequentes pagam ao utilizar contas recarregáveis. O modelo é mais parecido com a compra de um plano de dados de telefonia celular do que com o pagamento artigo por artigo de um site de notícias. O Skype usa um modelo similar para usuários que querem fazer ligações Skype para telefones comuns. (Não sou uma grande usuária do Skype, mas pelo menos uma vez por ano eu envio US$ 10 a eles para ter essa opção. Com o número suficiente de usuários, pequenas quantias viram uma bolada.)

A sabedoria convencional diz que uma plataforma de redes sociais deve construir uma grande base de usuários gratuitos e cobrar pelos anúncios. Mas este é apenas um princípio amplamente aceito que supõe que os usuários são sensíveis aos preços e que os anunciantes querem visualizações. Isso claramente não se aplica ao Twitter. Os anunciantes têm diversas alternativas -- Facebook, Instagram e Snapchat, entre as mais famosas -- e o Twitter tem problemas para atraí-los.

Mas os viciados no Twitter só se satisfazem com sua droga predileta. Basta perguntar a @realDonaldTrump.

Quando você para de pensar nele como uma plataforma de anúncios, o Twitter tem uma proposta de valor clara. A atenção é escassa e o Twitter é um mecanismo com um alcance incomumente bom. Até mesmo uma conta minúscula pode ser lida por uma grande -- seja uma celebridade favorita ou a empresa aérea que acaba de perder sua bagagem -- ao colocar o nome de usuário do alvo em um tuíte. Sei por experiência própria que o pessoal gente fina que administra o @AmericanAir sempre responde bem.

E para quem tem muitos seguidores essa é uma grande maneira de fazer com que os fãs se sintam pessoalmente conectados. Não cobrando um valor extra por mais seguidores, o plano dos dois centavos ainda recompensaria as pessoas capazes de atrair grandes audiências para a plataforma -- e ao mesmo tempo faria trolls e bots com poucos seguidores pagarem pelo privilégio de incomodar as pessoas. (Mensagens diretas poderiam continuar sendo gratuitas.)

O novo modelo exige um passo radical. Forçaria todos os usuários do Twitter a ligarem suas contas a um mecanismo de pagamentos. Os tuiteiros ainda poderiam usar pseudônimos, mas as contas pagas tornariam o verdadeiro anonimato mais difícil (mas não impossível para os mais determinados). Em uma plataforma cheia de bots, trolls e terroristas, reduzir o anonimato é um bônus em si. Se 15 por cento dos usuários ativos desaparecerem porque na verdade eram bots, segundo sugerido por um estudo recente de pesquisadores da Universidade de Indiana e da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, a plataforma se tornaria mais valiosa, não menos.

Pode ser que o modelo não funcione, é claro. Mas os anteriores também não funcionaram. Pensem neste meu conselho de dois centavos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.