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Gordos demais para morrer? 250.000 perus evitam abate no Brasil

Tatiana Freitas

29/03/2017 17h57

(Bloomberg) -- Há 250.000 perus no município de Mineiros, Goiás, no coração agrícola do Brasil, que não têm para onde ir.

O abate das aves estava programado para os últimos 12 dias em uma unidade da gigante do setor de alimentos BRF. A fábrica foi fechada em 17 de março em meio à Operação Carne Fraca, que investiga supostos pagamentos de propinas a agentes federais para permitirem a venda e a exportação de carne contaminada. Apesar de a companhia ter conseguido transferir os 120.000 frangos que processa a cada dia para outra fábrica, 4 milhões de perus são mantidos em fazendas da região -- alguns dos quais já estão pesados demais para o abate -- continuam encalhados.

"Os perus nascem com data para morrer. Se esperam muito, eles ficam gordos demais", disse Fábio Lemos, vice-presidente da Associação dos Avicultores Integrados da Perdigão (Avip) em Mineiros, em entrevista por telefone. Os produtores, que vendem as aves à BRF e acabaram ficando com animais encalhados desde o fechamento da unidade, estão preocupados com a possibilidade de a instalação permanecer fechada por um período de tempo longo, disse ele.

Os perus normalmente são abatidos quando pesam entre 20 e 22 quilos e se pesam mais do que isso não entram nas máquinas processadoras. Entre os demais problemas potenciais, Lemos também lista o risco maior de ataque cardíaco nas aves e cortes menos rentáveis devido à dificuldade para cortar as carcaças.

A planta da BRF em Mineiros normalmente abate cerca de 25.000 perus por dia, segundo Lemos. Com as operações suspensas desde 17 de março, mais de 250.000 animais estão ocupando 219 fazendas no município. O lugar mais próximo para o qual a BRF poderia enviar os perus é Uberlândia -- município a mais de 500 quilômetros de distância, em Minas Gerais, que seria um transporte caro e exigiria a permissão do Ministério da Agricultura do Brasil.

A BRF está esperando autorização para enviar os perus para sua unidade de Uberlândia e preferiu não comentar sobre os custos da operação, informou a assessoria de imprensa da companhia por e-mail. A BRF negou qualquer irregularidade na Operação Carne Fraca, afirmando que cumpre todas as regulamentações e que está cooperando com as autoridades. A planta de Mineiros segue regras estritas e a salmonela encontrada em contêineres enviados para a Europa provenientes dela é inofensiva e permitida pelos padrões europeus, informou a companhia.

A BRF, que tem sede em São Paulo, é a maior produtora de frangos e a maior empresa alimentícia do país, tendo vendido mais de 2 milhões de toneladas de carne "in natura" de aves em 2016. O Brasil exportou 139.742 toneladas de carne de peru refrigerada, congelada e processada no ano passado, segundo dados do governo. O principal destino foi a União Europeia, que suspendeu as importações da planta de Mineiros após a deflagração da investigação.